Este ano a Revolução dos Cravos comemora 50 anos
A 25 de abril de 2024 comemora-se os 50 anos da Revolução dos Cravos. Devido à importância da data, tanto a nível nacional como para a comunidade do concelho, o DD falou com alguns arouquenses para se inteirar do significado, importância e consequências da efeméride para os mesmos. A nível nacional, de modo a celebrar abril e as suas conquistas, 2024 vai ser um ano cheio de iniciativas levadas a cabo pela “Comissão Comemorativa dos 50 anos 25 de abril”, (que já tem vindo a organizar eventos alusivos à data, desde 2022, e que se estenderão até 2026).
“Para mim que sou mulher teve uma importância muito maior”
Com 9 anos na altura, Natália Soares frequentava a 4ª classe na “Escola Primária da Vila” (Arouca), tendo como professora Isabel Teixeira de Sousa, sendo que pela tenra idade viveu a data “de uma forma não muito consciente”. Ao DD contou que se recorda que “do nada” ficou “tudo em festa” e a “cantar”, “as meninas já podiam ir para o recreio juntas com os meninos”, e todos estavam “muito contentes sem saber muito bem o porquê”. Paralelamente, a arouquense acredita que foi “uma grande conquista para todos nós”, pois alcançou-se a “liberdade”, e o direito a exprimir “a nossa opinião”, mais ainda para si, que é mulher, e então “teve uma importância ainda maior”. O direito ao voto, a garantia de (teoricamente) existir igualdade de género, a “violência doméstica passar a ser crime”, (pois as mulheres “são bem mais sacrificadas”), a independência ganha “em relação aos homens, não sendo preciso a autorização dos maridos para “muitas coisas”, (como “viajar/exercer certas profissões”), foram algumas das conquistas que a entrevistada referiu como das mais importantes no pós 25 de abril.
“Por tudo isto e porque sou Mulher, um muito obrigada a todos o que tornaram isto possível”, frisou.
O amplo reconhecimento que, de uma forma geral os portugueses atribuem a Abril, nomeadamente em termos “políticos e sociais”, e na “melhoria das condições de vida”, é também partilhado pelos arouquenses. “Em Arouca talvez um pouco mais devagarinho pois estávamos mais afastados dos grandes centros, mas até isso começou a melhorar pois passaram a existir melhores redes viárias a ligar as cidades, e melhores infraestruturas. Resumindo todos beneficiamos”, concluiu NS.
“Tenho plena consciência que Portugal mudou, e mudou para melhor”
Com 53 anos, Pedro Souto expressa que as lembranças sobre a revolução do 25 de Abril “não são nenhumas”, uma vez que à data tinha apenas “3 anos de idade”, e a informação de que “dispunham” nas “aldeias era muito escassa, e desfasada, em relação ao tempo real dos acontecimentos”.
Mais tarde, com os seus “9 anos”, durante “o ensino primário”, apercebeu-se que os conceitos “liberdade e democracia” começavam a ser “muito falados”, nas “escolas, nos cafés e na sociedade em geral”.
“Ouvia muitas vezes, dos meus pais e das pessoas mais idosas, que o tempo da opressão tinha chegado ao fim. Eu, na minha pouca experiência de vida, não tinha sentido diretamente na pele o peso e a rigidez a que a maioria da população esteve sujeita no período pré revolução, mas percebi rapidamente que algo de muito importante tinha acontecido, e que a vida e a sociedade da população portuguesa tinham mudado”, explicou.
Como não viveu o período anterior ao 25 de abril não “notou grandes mudanças” na sua vida, só mais tarde, “já no ensino secundário”, tomou conhecimento das limitações da “censura”, das “perseguições políticas”, e “, sobretudo, da falta de liberdade” a que as pessoas estavam “sujeitas”. Lembra ter ouvido “pela primeira vez” as chamadas “músicas de intervenção”, sendo “Zeca Afonso” a figura mais se destacou nesse “campo”.
“Devo dizer que se tornou um ídolo pra mim, pela sua irreverência e inconformismo na luta contra os oprimidos, e pela sua genialidade musical, compondo alguns dos mais belos temas musicais que Portugal já conheceu”, destaca o arouquense.
“a informação de que dispúnhamos nas aldeias era muito escassa e desfasada em relação ao tempo real dos acontecimentos”
Como cidadão português, e militar que foi “durante 10 anos”, confessa que só pode “estar grato pela revolução de abril”, e, acima de tudo, grato a todos os militares que “diretamente a viveram e levaram a cabo”. “Tenho plena consciência que Portugal mudou para melhor, a sociedade e a vida das pessoas ficaram muito mais “leves, livres e justas… Viva o 25 de abril!!”.
Também Ramiro Almeida (67 anos), Presidente da ACDR de Provisende , deu o seu testemunho adiantando ter vivido o 25 de abril com “muita expectativa” e, ao mesmo tempo, “com muita esperança e alegria”, pois era “difícil, ou quase impossível, conversar em público” sobre o que se pensava.
A 25 de abril de 1974, com 19 anos, encontrava-se a estudar no liceu “S. António” em Arouca, lembrando que esse dia “teve muito significado”, pois tinha andado na noite anterior, com “alguns colegas”, a distribuir “panfletos de oposição-antifascista”. Esses panfletos eram realizados pelo o seu grupo de amigos “às escondidas”, e eram posteriormente distribuídos, normalmente durante a noite. Ao DD o sexagenário admitiu que a data foi muito importante para si, e para Arouca, pois “as pessoas deixaram de ser reprimidas por falar o que estava errado”, concluiu.
Sobre a Revolução
Faz este ano 50 anos da revolução ocorrida a 25 de abril de 1974, quando o Movimento das Forças Armadas (MFA) colocou termo ao Regime Ditatorial que vigorava há quase meio século em Portugal. Os Capitães apresentaram um Programa que tinha como objetivos a descolonização, democratização e o desenvolvimento do país rumo à democracia. Essa revolta teve impacto além-fronteiras, pois após mais de uma década a lutar em África, os militares iniciaram um processo que iria levar à independência das antigas colónias.
“Esta é uma Comemoração em nome de uma sociedade mais conhecedora da sua história recente, e também mais participativa, plural e democrática. Os 50 anos do 25 de Abril devem ser um momento de passagem de testemunho, dos que lutaram contra a ditadura e construíram a Democracia aos que nasceram em Liberdade. Devem ser o catalisador de uma consciência coletiva de cidadania – a base para construirmos os próximos 50 anos de Democracia, mantendo presente que nenhuma das conquistas de Abril pode ser dada por adquirida”, pode ler-se na página da CC50anos 25 de abril.
Ana Castro