Com o Verão a chegar e sendo, por norma, a altura em ocorrem mais fogos e mais perdas materiais, naturais e mesmo humanas, o DD falou com os comandantes das Corporações de Bombeiros da Região para perceber como se estão a preparar para a Época de Fogos.
Frisando que o prazo final para limpeza voluntária termina a 31 de maio, José Gonçalves, Comandante dos Bombeiros Voluntários de Arouca, começou por salientar que a resposta da sua Corporação a um incêndio “é tanto mais rápida quanto mais rápida” for a sua deteção.
Paralelamente informou que a vigilância dos incêndios rurais é da competência da Guarda Nacional Republicana, através do Dispositivo Integrado de Vigilância e Deteção de Incêndios Rurais (DIVDIR), que gerem o dispositivo de Postos existentes em Arouca. No concelho existem 3 destes dispositivos (Sra. do Monte em Alvarenga, Detrelo da Malhada e Castanheira em Alberga da Serra), bem como o sistema de videovigilância existente que no concelho compreende uma câmara instalada na Sra. da Mó, e outra no Marco dos 4 Concelhos, sendo estas complementadas pela rede existente nos municípios vizinhos. O rápido acesso à informação deste sistema de videovigilância permite “rapidamente” em localizar o incêndio, e perceber a sua dimensão, podendo ser feito o “reforço” de meios de forma mais ágil.
Com duas EIPS (Equipas de Intervenção Permanentes) ao serviço, os Bombeiros Voluntários de Arouca podem prestar “qualquer missão de socorro”, de segunda a sábado durante o dia.
Certo que as alterações climáticas devem levar a todos a “alterar comportamentos” o comandante reforçou ainda que a sua Corporação tem feito “a sua parte” ao alterar “a iluminação para equipamentos LED”, ter instalado “painéis solares” para o aquecimento de água e “painéis fotovoltaicos” para “produção de energia elétrica” para autoconsumo.
“As alterações climáticas devem levar todos a alterar comportamentos”
No que diz respeito aos incêndios, as alterações climáticas “levarão a comportamentos extremos mais rapidamente”, uma vez que “aumento da temperatura, e a consequente diminuição da humidade relativa” vai prejudicar o trabalho destes profissionais.
“Os incêndios, como já fomos tendo perceção, terão cada vez uma progressão mais rápida e mais violenta. Para isso é importante termos uma intervenção musculada, sempre com a triangulação de três meios terrestres e um ou dois meios aéreos de ataque inicial”, destacou o líder. No entanto, para que isso acontecer é necessário que “esses meios estejam disponíveis”, e que o “número de ocorrências seja baixo”. O que acaba por ser mais importante é “não usar o fogo durante o período crítico” (não se fazerem queimas de sobrantes agrícolas e/ou florestais nos períodos de calor, não usar grelhadores em espaços florestais).
Neste momento, para a área dos incêndios rurais, o Corpo de Bombeiros dispõe de 1 VLCI (Veículo Ligeiro de Combate a Incêndios), 4 VFCI´s (Veículo Florestal de Combate a Incêndios), 1 VTTF (Veículo Tático Tanque Florestal), 2 VTTU´s (Veículo Tático Tanque Urbano), 2 VCOT´s (Veículos de Comando Tático), 1 VTTP (Veículo Tático de Transporte de Pessoal) e 1 VCOC (Veículo de Comando e Comunicações), possuindo ainda um VUCI (Veículo Urbano de Combate a Incêndios), que é também 4×4 e pode apoiar essa missão. A instituição tem ainda “um atrelado com uma bomba de grande capacidade” que pode ser colocada “em qualquer ponto de água para abastecimento dos meios”. A este nível o DD ficou também a saber que a Associação tem feito “um esforço” com o apoio de vários mecenas, onde incluem o município, para renovar os veículos e adquirir novos “com mais segurança” para os operacionais.
“Há a necessidade de a comunidade perceber os comportamentos de risco”
Para além da instrução contínua interna, que é de carácter “obrigatório” e constante, participam em Ações de Treino Operacional “promovidas pelo Comando Sub-Regional de Emergência e Proteção Civil da Área Metropolitana do Porto”. Durante este ano, participaram também em “queimadas controladas”, “levantamento dos pontos de água de abastecimento dos meios aéreos”, indicaram “caminhos a ser intervencionados”, e colaboraram em diversas “ações de sensibilização nas Escolas e noutros Projetos”.
Contudo, o que José Gonçalves admitiu ser de enorme urgência é que as pessoas percebam os “comportamentos de risco”, não fazendo “uso negligente do fogo nos dias de calor”, e realizarem “queimas e queimadas só quando autorizadas” e “quando reunidas as regras e as condições mínimas”.
Nos primeiros meses do ano de 2024 já existiram “algumas ocorrências de incêndio”, “duas de maior envergadura em Alvarenga”, em zonas de mato, e “diversas na Serra da Freita”. Estas ocorrências são “mais fáceis de controlar”, apesar de advirem de comportamentos de pessoas “que usam essas zonas” para “atividade pecuária”. Muito embora o uso do fogo tenha sido sempre preponderante, é importante que as pessoas contactem, segundo o comandante, as entidades competentes, (ICNF e Gabinete Técnico Florestal Municipal) para esse trabalho ser feito por “entidades competentes”.
Por sua vez, Vítor Machado, Comandante dos Bombeiros Voluntários de Vale de Cambra, confessa que a forma que utilizam para reduzir os tempos de resposta dos fogos florestais é pelo “acesso às câmaras instaladas para o sistema de vídeo vigilância CICLOPE”. Esse serviço “não cobre” as freguesias de Arões e Junqueira, o que levou a que “já em 2017” fizessem a candidatura a um “veículo de combate mais moderno”, assim como a aquisição de um veículo inaugurado “este ano” para o mesmo efeito. Também com duas EIP a atuar de segunda a sábado, das 08h00 às 20h00, foram a primeira Corporação do País a “inaugurar a instalação de uma Unidade de Produção para Autoconsumo (UPAC), que permite uma poupança no consumo de energia”, no que toca à sustentabilidade.
À semelhança de Arouca a AHBVC possui uma equipa de 5 Bombeiros permanentes para combater Incêndios (24 horas), sendo que estes estão dotados de quatro Veículos Florestais de Combate a Incêndios e um Veículo Tanque Tático Florestal (VTTF).
Na perspetiva do comandante existem três grandes objetivos que têm de ser implementados ao nível de proteção civil para que menos área de floresta seja consumida. Salienta, a este título, a “obrigatoriedade da implementação da rede de faixas de gestão de combustível para reduzir a passagem de incêndios”, a implementação “de campanhas de sensibilização de acordo com os segmentos populacionais”, definir “áreas críticas e prioritárias de fiscalização, tendo em consideração a identificação das principais causas e motivações do incêndio”. Vítor Machado concluiu referindo que de fevereiro a março, na parte alta do concelho (Serra da Freita), como é habitual, ocorreram incêndios, “possivelmente fruto da necessidade de renovação de pastos”. Deu nota do incêndio já este ano, nessa zona, e que acabou por “afetar cerca de 10 hectares de matos”.
“Portugal não passa dos factos às ações, somos um povo que reage, em vez de prever”
Com uma área de ação um pouco mais urbana, mas, ainda assim, ajudando no auxílio nas freguesias de Mansores, São Miguel do Mato, Escariz e Fermedo, Jorge Bastos, Comandante dos Bombeiros Voluntários de Fajões, afirmou que para agir depressa no socorro é fundamental realizar uma “formação constante”.
Na certeza de que “para cada ocorrência existe sempre alguma inovação”, citou Aristóteles “é fazendo que se aprende a fazer aquilo que se deve aprender a fazer”, para salientar que é a “constante prática que nos alarga a visão e nos oferece novos campos de abordagem”.
Apesar de reconhecer a existência de “drones, aplicações móveis de coordenação, etc”, considera que estes dispositivos têm um “custo elevado” e que “necessitam de verbas avultadas” motivos pelos quais os BVF não os possuem. Não obstante, os sistemas de Informação Geográfica (SIG), “necessitarem de máquinas informáticas, têm a sua utilização quotidiana no combate, planeamento dos incêndios rurais”, sendo “a aplicação FEB Monitorização” utilizada neste ponto”, acrescentou.
Também com duas EIPS ao seu dispor, criadas através do protocolo com a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil e o Município de Oliveira de Azeméis, estas equipas “têm como base de trabalho Oliveira de Azeméis”, apesar de também agirem “fora da área de intervenção própria.”
Lamenta o facto de, apesar de serem próximo do Município de Arouca, e sendo área de atuação por proximidade”, não serem chamados para “ações de colaboração”, garantindo que “estarão sempre disponíveis” para esse efeito, uma vez que são parceiros “nesta área que afeta todos”
Fruto da “sua disponibilidade” e da “aproximação ao Comando Sub-Regional de Proteção Civil da AMP”, os BVF dispõem de 5 elementos para combate à fase inicial de um incêndio, e 7 elementos nas restantes fases (durante 24h).
*REPORTAGEM COMPLETA NA ÚLTIMA EDIÇÃO IMPRESSA JÁ NAS BANCAS;