Arouca, graças à iniciativa das “Conferências de Arouca” promovidas pela Associação Círculo Cultura e Democracia, tem beneficiado da presença de um conjunto de relevantes personalidades, nos mais diversos campos, que têm contribuído com as suas palestras para o enriquecimento cultural e social dos arouquenses e para a promoção do debate sobre temas da actualidade que têm percorrido os mais diversos campos.
A última conferência contou com a presença de um bem conhecido pensador, filósofo, jornalista e comentador, com presença habitual nos mais diversos meios de comunicação social, desde a imprensa, à rádio e à televisão. Referimo-nos ao professor catedrático de Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Viriato Soromenho-Marques que, desde há vários anos, vem desempenhando diversas funções em organizações da sociedade civil e órgãos consultivos na área ambiental, tanto em Portugal como no quadro europeu, sendo também autor de uma vasta bibliografia sobre temas filosóficos, ambientais, políticos e estratégicos.
A apresentação do Dr. Soromenho-Marques esteve a cargo do vereador da Câmara Municipal, Marcelo Pinho, que começou por realçar o “trabalho notável levado a cabo pela Associação Circulo Cultura e Democracia nesta iniciativa das “Conferências de Arouca””. Depois de passar em revista o seu vasto e variado currículo, Marcelo Pinho considerou o palestrante “um conhecedor profundo do mundo em que vivemos”, tendo sido já considerado, por algumas revistas, um dos 200 portugueses mais influentes e uma das 30 personalidades mais relevantes nas últimas décadas e com grande responsabilidade na construção da opinião pública.
Tendo como tema geral da Conferência “Como habitar a Terra e merecer o futuro”, Soromenho-Marques, ao longo da sua exposição, abordou algumas “tarefas de desafios da sustentabilidade num Mundo Globalizado”, considerando que o maior desafio que a humanidade enfrenta não pode significar uma rotura com a globalização, mas sim uma reforma revolucionária do processo de mundialização, colocando os mercados ao serviço do interesse universal da sobrevivência da civilização e das condições de habitabilidade do planeta Terra.
Partindo da constatação de um pessimismo cultural existente em boa parte da população mundial (15%) que acredita na ocorrência de catástrofes, ainda no seu tempo de vida, Soromenho-Marques passou em revista alguns dos fenómenos que contribuem para esse pessimismo, nomeadamente a crise do ambiente à dimensão planetária, com as suas alterações climáticas e o efeito estufa na atmosfera, bem como a biodiversidade e a segurança alimentar. Por outro lado, a fragmentação da violência, com os frequentes atos de terrorismo, as diversas guerras civis e o aumento de refugiados para a Europa fazem com que estejamos a passar da “era do risco” para a “era da incerteza”, agravada pela crise económica e financeira e pela insegurança hídrica, alimentar e energética.
Feito este diagnóstico e esta constatação, o conferencista abordou, de uma maneira clara mas muito profunda, “uma nova perspectiva para a governança global”, defendendo a necessidade de uma cooperação para gerir os bens comuns; apostando no imperativo de regular e humanizar a globalização e acentuando a necessidade do combate à pobreza e à desigualdade.
Para reforçar essa sua perspectiva global citou o Papa Francisco que, na sua encíclica “Ladato si” (Louvado sejais), defende que “Uma ecologia integral é feita também de simples gestos quotidianos, pelos quais quebramos a lógica da violência, da exploração, do egoísmo. Pelo contrário, o mundo do consumo exacerbado é, simultaneamente, o mundo que maltrata a vida em todas as suas formas ”.
Viriato Soromenho-Marques concluiu a sua reflexão socorrendo-se de mais uma citação em que Franklin Roosevelt afirma que “Aprendemos que não podemos viver em paz sozinhos; que o nosso bem-estar depende do bem-estar de outras nações longínquas (…) Aprendemos a ser cidadãos do mundo, membros da comunidade humana”.
Terminada a sua exposição, coube ao Prof. Doutor Victor Martins do ISEG, da Universidade de Lisboa, tecer alguns comentários sobre a mesma, abrindo depois o debate à plateia, debate esse que só não se prolongou por mais tempo devido ao adiantado da hora, pois o tema abordado não deixou de ser aliciante para todos os que tiveram ocasião de assistirem a mais esta “Conferência de Arouca”, a 16ª promovida pela Associação Círculo Cultura e Democracia.
Texto de José Cerca