Arouca: estrutura local do PSD com demissões

Não está a ser um momento fácil o que o PSD de Arouca está a viver. Depois das autárquicas de outubro, e apesar da vitória na maioria das juntas de freguesia, ainda não estão assimiladas as derrotas para a Câmara e Assembleia Municipal. Como uma das consequências estão aí duas demissões: o vogal Joaquim Almeida e mais recentemente o Vice-Presidente João Rita – cujas razões foram tornadas públicas.


João Rita: “…houve desrespeito pelos militantes do partido”.

Em e-mail dirigido ao Presidente da Comissão Política do PSD Arouca, Rui Vilar, e remetido também às redações, João Rita, após lembrar o que o levou a integrar aquela estrutura, justifica as razões da sua demissão. Para si não houve “uma estratégia política global, de um plano de ação e de uma visão estratégica para o concelho tornaram-se por demais evidentes no decorrer de todo este processo eleitoral”, sendo que alertou para tal – salienta.

Particularizando sobre a ineficácia da referida estratégia refere “a impreparação de muitos dos envolvidos”, para além de que “as convicções pessoais que foram sendo colocadas, de forma constante, à frente dos interesses de Arouca e dos arouquenses”, isto para além do “desrespeito pelos militantes do partido”, a “incapacidade de auscultar os militantes e os elementos da Comissão Política concelhia na escolha de candidatos autárquicos”, consumada numa “direção de campanha que agiu de forma amadora, errática e sectária, sem uma capacidade de liderança, sem uma postura equilibrada, sem capacidade para a procura de consensos”.

A longa missiva escalpeliza aquilo que entende ser as razões para a derrota, referindo também no que no seu entender são falácias e irrealismo.

Este ex-dirigente dá ênfase ao “desacordo para com os procedimentos estratégicos seguidos” (ou a falta deles), e justifica a razão por só agora apresentar a demissão, esperando que “com este ato, pensado, ponderado e consciente, contribuir de forma efetiva para credibilizar a atividade política e o futuro do PSD Arouca”.

Joaquim Almeida: “Fui maltratado”.

Em nota que foi tornada pública, Joaquim Almeida deu a conhecer as razões da sua saí­da. Para si o resultado das últimas eleições autárquicas deve-se à “má estratégia de campanha, as péssimas opções e as péssimas escolhas”, referindo também que apesar de não estar de acordo com algumas matérias, foi concordante delas, ressalvando, no entanto, que alertou várias vezes, em vários temas que o caminho estava errado, e “por dizer o que pensava fui mal tratado”. Para este social-democrata a estratégia do partido a nível local esteve errada, destacando que não faz qualquer sentido manter-se no cargo “para o qual fui eleito que já não funciona, não existe e não reúne”, aduzindo que depois das eleições autárquicas a CPS de Arouca “ainda não realizou qualquer reunião”.

Joaquim Almeida salienta ainda que sai “com um sentimento de dever cumprido”.

Carta de Demissão de João Rita na í­ntegra

Caro Presidente da Comissão Política do PSD Arouca, Rui Vilar,

No seguimento da premissa acordada aquando da minha entrada para o projeto e para a equipa da Comissão Política de Arouca sob o lema “Unir o PSD”,

Na qualidade de Vice-Presidente da estrutura, e tendo por base o último processo autárquico e os resultados obtidos pela coligação ‘Somos Arouca’, nas mais diversas frentes, sinto a obrigação, a necessidade e o dever de expor que:

– A inexistência de uma estratégia política global, de um plano de acção e de uma visão estratégica para o concelho tornaram-se por demais evidentes no decorrer de todo este processo eleitoral;

– Os meus sucessivos alertas e sugestões de melhoria terem sido entendidos como críticas negativas e entraves ao processo em curso;

– A impreparação de muitos dos envolvidos ter sido um facto recorrente, refletindo-se em tomadas de decisão intempestivas e pouco estruturadas, e em intervenções sem uma visão clara de futuro, ;

– As convicções pessoais que foram sendo colocadas, de forma constante, à frente dos interesses de Arouca e dos arouquenses;

– O decoro e desrespeito pelos militantes do partido, não havendo a capacidade de os chamar ao processo e de os ouvir, de criar uma estratégia conjunta e concertada, tratando-os como “ingratos” e “desertores”;

– A ingerência permanente, visível na inexistência de regulares reuniões estratégicas com os elementos da Comissão Política, demonstrando um desrespeito total pelos seus membros e pelo espírito de união e de trabalho conjunto que esteve na génese da sua criação;

– A incapacidade de auscultar os militantes e os elementos da Comissão Política concelhia na escolha de candidatos autárquicos;

– Uma direção de campanha que agiu de forma amadora, errática e sectária, sem uma capacidade de liderança, sem uma postura equilibrada, sem capacidade para a procura de consensos. Não ter uma visão estratégica e uma liderança eficaz, significa não ser capaz de olhar o futuro;

– O facto de termos perdido uma Junta de Freguesia, um Deputado Municipal e a Câmara Municipal – o PSD consegue eleger somente dois vereadores, e, por fim, a perda da eleição para a Assembleia Municipal quando tinha a maioria dos votos ao seu dispor;

– A falta de sensibilidade e de humildade política e pessoal em assumir o desastre eleitoral no qual o PSD se encontra. O argumento utilizado no “plenário domingueiroâ após as eleições, que conseguiu reunir pouco mais de uma dezena de militantes, no qual foi articulado um discurso alinhado baseado no “nós não perdemos…, só não ganhamos”, além de ser um péssimo argumento é falacioso e irreal.

Por mais ângulos que tentemos utilizar para analisar a realidade e os resultados eleitorais, não é possí­vel encontrar qualquer tipo de sucesso no decorrer deste processo.

Muito claramente não me revejo neste tipo de sentimento medíocre, nesta inabilidade para agir e assumir os erros, e nesta “estratégia” partidária!

Sempre que tive oportunidade, manifestei a minha visão para o futuro de Arouca dando todos os contributos para a construção de uma campanha séria, profissional e estruturada, capaz de sair vencedora.

Como é do conhecimento dos elementos presentes na última reunião da CPS, em tempo oportuno deixei bem clara a minha posição de desacordo para com os procedimentos estratégicos seguidos (ou a falta deles), que sempre considerei básicos e medíocres. Contudo, não querendo ser apelidado de elemento perturbador ao interferir na estratégia adotada, decidi manter a devida calma e estar disponível para que, se solicitado, pudesse ainda contribuir para o processo em curso, não tomando qualquer tipo de posição pública.

Os arouquenses foram claros, deram-nos um cartão vermelho e somente o Sr. Presidente da Comissão Política ainda não o conseguiu entender.

Porque não estou, nem pretendo estar agarrado a qualquer tipo de cargo político. Porque acredito que, para que nos possamos apresentar como soluções ou candidatos ao que quer que seja, devemos primeiramente efetuar um trabalho sério de credibilização no seio da nossa comunidade, seja ele a nível educativo, desportivo, social, associativo, cultural, ambiental, e/ou outros, dando provas da nossa competência e capacidade de trabalho. Esta é a única forma de nos tornarmos credíveis, de contribuirmos para o bem comum e de gerarmos confiança nos eleitores e na sociedade!

Os arouquenses são cidadãos atentos, capazes e extremamente inteligentes que hoje, mais do que nunca, sabem distinguir e sabem escolher entre uma sigla partidária e as pessoas verdadeiramente credíveis e geradoras de confiança!

Como se já não bastassem todos os factos acima descritos e toda a ingerência verificada no decorrer do processo eleitoral, eis que na última Assembleia Municipal extraordinária, e tratando-se de encontrar os melhores cidadãos para os diferentes conselhos municipais, o PSD Arouca, em vez de fomentar uma política exemplar de união e de consensos entre as várias forças partidárias, procurando o bem estar dos arouquenses, continuou com a sua tática de guerrilha autárquica que em nada nos dignifica. Estou convicto de que o cidadão comum jamais compreenderá esta forma de ser, estar e agir na sociedade.

A trabalhar desta forma, podemos ganhar algumas votações dentro do partido, mas jamais conseguiremos ganhar a confiança dos arouquenses!

Talvez um dia, com as pessoas certas, a confiança dos eleitores arouquenses possa ser reconquistada.

Há um limite para tudo, e face ao exposto, e ao cartão vermelho mostrado pelos arouquenses, tendo em conta a vontade de um conjunto de personalidades militantes e simpatizantes do partido, no sentido de credibilizar quem anda nas lides políticas e tem como princípio orientador a seriedade, a verdade, a capacidade de trabalho e o mérito, entendo que é meu dever apresentar o meu pedido de demissão do cargo de Vice-Presidente da Comissão Política do PSD Arouca.

Espero, com este ato, pensado, ponderado e consciente, contribuir de forma efetiva para credibilizar a atividade política e o futuro do PSD Arouca.

Saio com orgulho no meu trabalho. Saio com o sentimento de dever cumprido. Saio de cabeça levantada, com a certeza de que me mantive fiel aos meus princípios e convicções, com a clara convicção de tudo ter feito para o bem de Arouca.

Não posso terminar sem deixar de agradecer a todos que me acompanharam nestes últimos anos e que, de forma livre e desinteressada, uniram esforços e trabalharam em prol da defesa dos interesses de Arouca e dos arouquenses.

Estou e continuarei disponível para trabalhar pelo melhor futuro de Arouca!

Votos de maior consciencialização, credibilização e dedicação à causa pública,

João Rita | Vice-Presidente do PSD Arouca | Militante nº 46779″

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