Revista «Sábado» reaviva polémica sobre quem é “o pai dos passadiços”

Na sequência de uma entrevista feita à presidente da edilidade, Margarida Belém, e que demos eco da última edição do DD, a revista semanal «Sábado», na publicação do passado dia 7, voltou ao assunto dos Passadiços do Paiva, reavivando uma velha polémica sobre quem é o “pai” dessa obra.

A «Sábado» começa por referir que o empresário Octávio Canhão garante que é ele. E também da futura ponte suspensa (em construção). Este mostra-se indignado porque a Câmara de Arouca não reconheceu o seu trabalho nem lhe pagou devidamente os projectos. A autarquia desmente e fala em “ideia embrionária”.

Os fundamentos noticiados.

Na referida entrevista, quando questionada sobre quem foi o autor da ideia dos passadiços do Paiva, Margarida Belém respondeu assim: “Este é um projecto que começou [em 2008] ainda com o anterior presidente da Câmara de Arouca, o engenheiro [Artur] Neves. Houve muitas pessoas envolvidas, mas a haver um pai é ele, porque foi ele e a sua equipa que acreditaram que este projecto seria uma mais-valia, porque as pessoas estavam sempre a deitar abaixo, não acreditavam que fosse possível construir uma coisa daquela dimensão”.

Ao ler esta entrevista, Octávio Canhão decidiu contactar a «Sábado» para garantir: “Eu é que sou o pai dos passadiços”. O sócio-gerente da Luso Rafting, empresa que organiza descidas de rafting e canoagem no Rio Paiva desde os anos 90, explicou que foi contactado pela autarquia, em Setembro de 2007, para apresentar um projecto de desenvolvimento turístico para a região.

Além dos passadiços, o seu dossiê contemplava uma ponte suspensa (que começou a ser construída em Abril deste ano), circuitos de BTT, rampa de saltos para rafting, a requalificação das antigas minas de volfrâmio de Rio de Frades e Regoufe ou a construção das vias ferratas (caminhos para escalada com ferros feitos em paredes rochosas). “Isto é a Bíblia do desenvolvimento turístico de Arouca”, diz Octávio Canhão, apontando um exemplar do dossiê que apresentou à Câmara de Arouca em Janeiro de 2008.
“Estive um mês a fazer este dossiê, entre o Natal de 2007 e 25 de Janeiro de 2008”, conta Octávio Canhão, explicando que se inspirou em estruturas semelhantes nos Alpes e nos Estados Unidos. Já a ponte suspensa, teve como exemplo o
sky walk do Grand Canyon. “Tudo o que Arouca está a fazer partiu das coisas que eu criei”, aponta.

A autarquia pagou-lhe 12 mil euros pelo projecto, como ele próprio admitiu, mas ainda assim Octávio Canhão está indignado por não ser reconhecido e também porque nunca mais recebeu qualquer verba, apesar de ter ajudado a Câmara, pontualmente, até 2014. “Fui uma espécie de consultor, dei informação, acompanhei os concursos, contactei empresas para pedir orçamentos, levei-as ao terreno, fiz um plano de segurança, fiz um masterplan no valor de 3 mil euros… e nunca mais me pagaram.

“O empresário Octávio Canhão é um grande conhecedor do rio Paiva”, admite Margarida Belém. Contactada pela Sábado a presidente da Câmara de Arouca explica: “Em virtude do conhecimento que detinha da região, Octávio Canhão foi contratado pelo município para elaboração de um projecto de turismo activo. Esse estudo, devidamente pago pelo município, e que foi entregue em 2008, continha uma série de intenções, entre as quais uma ideia muito embrionária dos passadiços do Paiva. Foi a visão estratégica do engenheiro [Artur] Neves e o posterior envolvimento e trabalho continuado e empenhado de uma larga equipa que possibilitou o surgimento do projecto dos passadiços do Paiva, com a dimensão e a projecção que hoje conhecemos”.

Aliás, continua a presidente, “se o município se tivesse ficado pela ideia constante do projecto elaborado pelo Octávio Canhão, quase que me atreveria a dizer que os passadiços não teriam saído do papel. Houve muita pedra a partir, muito caminho a fazer, e tal só foi possível, repito, pelo poder visionário do engenheiro Neves e pela participação de uma equipa muito significativa e diversa de pessoas”.
Octávio Canhão diz que não espera que a autarquia mude de atitude em relação ao seu trabalho. “Não, eles já assumiram que aquilo é deles, não vão assumir uma coisa de anos. Mas acredito que um dia se há-de fazer justiça, porque a verdade é que eu é que sou o pai daquilo, eu é que pus o rio Paiva no mapa”.
Enquanto vai folheando o dossiê, lamenta que se tenham aproveitado da sua boa-fé. “Eu, estupidamente, fui sempre ajudando, dando informações, fazendo projectos… Eles pediam-me e eu fazia. O último caso aconteceu em 2014. Estava para ir para o Colorado, nos EUA, fazer uma descida do rio, quando me pediram para fazer os orçamentos dos planos de segurança e do acesso ao rio. E eu fiz. Tanto os planos de segurança para os passadiços como para as descidas do rio Paiva em desportos de águas bravas foram feitos por mim. Eu fiz tudo direitinho: estabeleci as saídas de helicópteros, previa o uso das macas especiais com encaixe nos ombros e rodas, tudo”.

A questão, diz, é que não foram aceites. “Tanto para os planos de segurança como para outros projectos, o presidente da Câmara da altura [Artur Neves] dizia sempre que iam pedir orçamentos a outras empresas da região, como se a minha não fosse da região, está lá sediada. Fiquei sempre com a sensação que me estavam a empurrar para fora dos projectos por eu não ser da zona, por eu ser o mouro”.
Octávio Canhão argumenta ainda que não ser reconhecido como o mentor dos passadiços do Paiva lhe trouxe grandes prejuízos. Ele explica: “Já apresentei projectos semelhantes a várias câmaras da região Norte, de Sever do Vouga e Vale de Cambra a Melgaço. E sabe quantas é que me adjudicaram projectos? Zero. E sabe porquê? Porque este projecto é tão grande que não acreditam que tenha sido feito apenas por uma pessoa. Mas a verdade é essa: isto saiu tudo da minha cabeça”.

Esta notícia acabou por ter grande impacto, sobretudo nas redes sociais, com pontos de vista diferenciados sobre uma polémica que, pelos vistos, está para durar.

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