No fim de semana de 21 e 22 de julho, Arouca recuou até aos tempos áureos do Mosteiro, durante os séculos XVIII e XIX. Milhares de pessoas marcaram presença nesta viagem no tempo, onde se recriaram importantes momentos da história local.
O Mosteiro abriu novamente a suas portas, para mais uma viagem ao antigamente. Nos dias 21 e 22 de julho, decorreu em Arouca, a 12ª edição da Recriação Histórica, que contou com a atuação de mais de 200 figurantes, a grande maioria recrutados de diversas associações arouquenses. Durante três dias, os figurantes deram vida aos vários espaços conventuais, nomeadamente, os claustros, o refeitório, a cozinha, a botica, os locutórios e a cerca, com a recriação de cenas do quotidiano nos séculos XVIII e XIX. Mas a animação não se ficou pelo interior do Mosteiro. O Terreiro de Santa Mafalda, a Praça Brandão de Vasconcelos e toda a zona histórica, foram também palco de grande animação popular.
Na sexta-feira, decorreu a eleição da nova Abadessa, em louvor de quem alguns boémios protagonizaram um abadessado (ou outeiro poético). A festa começou com bombos e charamela e os artesãos mostraram os seus ofícios e a sua arte. A vila vestiu-se a rigor para a festa de S. Bernardo e as monjas voltaram a habitar o Mosteiro de Arouca. Nas ruas, o povo cantou e dançou enquanto descansou do labor dos seus ofícios.
No segundo dia de “Arouca – História de um Mosteiro”, após a entrega das Varas das Justiças, o desditoso Frei Simão de Vasconcelos foi preso em Arouca e escoltado para Lamego. As freiras continuaram a receber visitas de familiares e amigos nos locutórios e, na Casa do Despacho, a Abadessa foi gerindo a relação entre o interior e o exterior do Mosteiro. Mais tarde, violentos abalos fizeram tremer as grossas paredes do Mosteiro, tendo sido recriadas as repercussões que o terramoto de 1755 teve por estas terras. Depois dos momentos de pânico, as religiosas e o povo, ainda abalados, voltaram ao seu quotidiano.
No domingo, depois de três dias vividos com grande intensidade, a viagem ao tempo chegou ao fim. Após o terramoto, e em procissão pelos claustros, as monjas pediram perdão divino, os absolutistas, em resposta aos liberais, reclamaram D. Miguel I como legítimo rei de Portugal. Morreu a última freira do Mosteiro e as moças transportaram o corpo para o Cadeiral, onde ficou em vigília. O despique de bandas, que se realizou pelas 19h00, foi também um dos momentos mais apreciados pelo povo. As picardias improvisadas entre ambas as coletividades arrancaram gargalhadas ao público.
Foram muitas as cenas recriadas por todos esses espaços da zona histórica, alternadas com momentos de animação musical, com a atuação de malabaristas de rua, arruadas de bombos, saltimbancos, contadores de histórias populares, salteadores de estrada e muitos outros figurantes, devidamente trajados e oriundos dos diferentes estratos sociais da época. Não faltaram também as tasquinhas improvisadas, os animais do campo e diversas barraquinhas com os produtos tradicionais da região.
Notas soltas de um repórter
Andar por ali, vaguear pelo centro histórico de Arouca, espreitar “coisas e loisas”, falar com visitantes, atores e figurantes permitiu a elaboração de algumas breves notas ao repórter do DD. Aqui vão:
– Uma temperatura amena durante o evento facilitou a vida aos figurantes e ao público;
– A animação no interior do mosteiro esteve mais pobre que em anos anteriores contrastando com a do exterior que esteve melhor. Muitas cenas repetidas a necessitar de alguma inovação. Algumas falhas na direção de atores levou a que por vezes se tivesse recorrido ao improviso. A botica também precisa de mais vida;
– A parte musical esteve bem;
– O fogo de artifício no sábado esteve à altura do evento;
– Alguns espaços dos artífices ficaram muito tempo abandonados;
– Aquilo que se esperava que fosse o ponto alto da Recriação, o Terramoto, gorou as espectativas. Em termos visuais não foi adequado porquanto induziu as pessoas para um incêndio e não para um terramoto. Pouco impacto;
– Já na parte final, o despique de Bandas foi muito bom e esteve à altura de anos anteriores. Também a opção de proceder ao encerramento na praça foi bem sucedida;
– Um evento positivo que trouxe muita gente a Arouca e deixou dinheiro nos restaurantes e cafés permanentemente lotados;
– “É sempre a mesma coisa”, ouvia-se aqui e ali. Se calhar é de pensar em realizar o evento de dois em dois anos, alternando, por exemplo, com o que já foi um grande acontecimento em Arouca: CISTER, Sabores e Saberes. Aqui fica a ideia!