A problemática concorrência dos jipes aos táxis no serviço de transporte de utilizadores dos Passadiços do Paiva parece não ter solução à vista. Essa é a principal evidência três semanas depois do assunto ter sido discutido na Assembleia Municipal, em que surgiu o apelo dos autarcas para a intervenção das entidades competentes visando o cumprimento da legalidade.
O problema vai, no entanto, ganhando complexidade e outros contornos. Depois do taxistas consideraram que o trabalho dos jipes é ilegal, tendo por várias razões feito valer esse principio, através de um porta voz na Assembleia Municipal e o ter reiterado ao nosso jornal, os proprietários dos jipes, em declarações ao DD, revelam que também podem fazer aquele serviço porque para tal também se encontram licenciados.
Clima de tensão
O clima de tensão entre os taxistas e os condutores dos jipes continua nos dois principais pontos de acesso aos Passadiços do Paiva. Isso mesmo foi testemunhado pela reportagem do nosso jornal. Alguns apontam como solução uma regulamentação diferente que enquadre a necessidade daquele transporte, que por vezes se revela escasso face à procura.
“A captação agressiva de clientes por parte dos condutores dos jipes não faz sentido” dizem-nos os taxistas, secundando de alguma forma o que António Manuel Teles disse na referida sessão da Assembleia Municipal, mostrando-se indignados face à inoperância da autoridades.
No entanto, um destes taxistas (que não quis ser identificado), e já em contacto posterior, reconheceu que o trabalho das forças policiais estará condicionado às licenças que estes empresários têm, sendo que, para si, sempre podem atuar pelo facto do jipes “não reunirem as condições para um transporte seguro”. Por parte do Sr António, também ele taxista há muitos anos as principais baterias estão apontadas à Câmara, que depois de os incentivar a fazer aquele serviço os abandonou: “não nos respeitam”.
A indignação dos taxistas tem vindo em crescendo face a uma concorrência, quem dizem ser agressiva, por parte de um conjunto de empresas ligadas “à aventura”, que no seu entender distorcem o objeto da sua criação para fazer serviço quase exclusivo de transporte de utilizadores de passadiços.
Nada impede os jipes…
Os proprietários dos jipes lamentam o que está acontecer. “Não entro em guerras entre táxis e jipes” – começou por nos dizer Miguel Brandão proprietário da Aroucatours – uma empresa que tem táxis e jipes que, no entanto, refere que existe uma “má informação por parte de alguns motoristas”, dado que para si “nada impede de jipes operarem”, até porque “todos jipes estão licenciados pelo Turismo de Portugal”. E Miguel Brandão passou a acusar: “pior que jipes é certos motoristas de táxi veículos mais de quatro lugares baixarem o valor abaixo dos preços convencionados”.
Para Pedro Teixeira (Sócio-Gerente, da Just Come) falar em “concorrência desleal é descabido. A concorrência é algo natural, saudável, sobre a qual devemos usar um pouco de inteligência e maturidade para a compreender e aceitar”. Isto apesar de reconhecer que “há muitos aspetos no serviço de transporte de turistas que acontece nos Passadiços do Paiva que devem ser melhorados”.
Este empresário no e-mail que nos enviou enquadra o serviço (vulgarmente referido como “Transfer”), justifica a sua necessidade e pergunta: “estarão as agências de viagem a fazer o serviço de táxi, tal como vulgarmente somos acusados, ou estarão os táxis a fazer um serviço de transfer que é próprio das agências de viagem?”. A partir deste pressuposto o responsável por esta empresa enquadra este serviço do ponto de vista jurídico/legal e refere que durante este verão a Just Come foi fiscalizada 7 vezes pela GNR e uma vez pela ASAE, sendo que “não encontraram qualquer irregularidade relativa ao exercício da nossa atividade”. Foi, no entanto, levantado um auto de contraordenação por uma falta de homologação do dispositivo de engate, que inclusive deu origem a apreensão de um dos veículos. Prova, para si, de que os militares da GNR “não estavam com uma atitude “compreensiva” e “benevolente” no momento destas fiscalizações” – adiantou ainda, para de seguida deixar testemunhos abonatórios registados no Trip Advisor.
Pedro Teixeira conclui com o lamento de alguns factos relacionados com taxistas e a falar de segurança: “quem está no local, sabe que há taxistas que fazem a viagem a velocidades dignas de pistas de rally para conseguirem o maior número de serviços possível”, sugerindo alterações modus operandi destes.
Muito há a fazer
Face às acusações cruzadas registadas pelo nosso jornal há a consciência comum que o “serviço de transporte nos Passadiços do Paiva é uma necessidade e uma mais valia para maioria das pessoas que visita esta estrutura”. Tal como afirma um dos empresários ouvidos “este serviço, a par do staff dos Passadiços do Paiva e os bares de apoio, são muitas vezes a «receção» do nosso território e traduzem-se em alguns casos na única experiência de contacto humano que grande parte dos visitantes têm cá”.
Pedro Teixeira é um dos que reconhece que “existirão certamente algumas irregularidades cometidas tanto por alguns taxistas como por algumas empresas de animação turística. Mas isso cabe às autoridades fiscalizar e responsabilizar quem não respeita a lei”.
Para este gerente o que mais o preocupa, enquanto arouquense e responsável por um operador turístico cujo foco é o desenvolvimento de programas turísticos neste território “é a desordem, a insegurança, falta de qualidade e de qualificações de alguns profissionais e o clima de conflito que se vive neste serviço.”
O Sócio-Gerente, da Just Come quis realçar que, apesar de ter descrito alguns maus comportamentos de profissionais de táxi no seu testemunho, “existem felizmente alguns profissionais exemplares no seu trabalho e que merecem serem destacados e beneficiados em relação aos seus colegas de profissão menos recomendáveis”. PB.