A Câmara Municipal de Arouca aprovou por maioria, na reunião do passado dia 19, que o acesso à ponte pedonal sobre o rio Paiva vai custar 12 euros por pessoa quando abrir ao público. Vereadores do PSD questionam “outros valores que não só o da entrada”.
A Câmara ainda não definiu uma data para a inauguração da Ponte 516 Arouca, no que influem sobretudo as contingências atuais relacionadas com a pandemia de Covid-19, mas já aprovou a tabela de preços que já apresentou aos operadores turísticos do concelho. No entanto, ao que apuramos, estes não foram previamente consultados.
Margarida Belém, presidente da Câmara Municipal de Arouca, explicou à Lusa a opção pelo valor de 12 euros como preço normal de acesso à Ponte 516: “Enquanto obra de engenharia única, a Ponte 516 Arouca envolve uma experiência exclusiva e singular e, o custo da entrada ajudará a controlar fluxos e a garantir uma visita de qualidade. Estes preços também ajudarão a fazer face aos custos de manutenção previstos e à contratação do pessoal necessário para controlo e realização das visitas”.
Além do bilhete normal a 12 euros, o tarifário da nova construção prevê ingressos a 10 euros para estudantes e maiores de 65 anos, assim como packs familiares. A experiência de travessia da ponte estará vedada a crianças com menos de seis anos, mas para agregados com filhos de idade superior estará assim disponível um pack mais barato de 30 euros, no caso de dois adultos e uma criança, e outro de 40 euros, para casais com dois menores.
Os cidadãos com residência comprovada em Arouca continuarão a ter acesso gratuito à nova estrutura mediante a aquisição de um cartão de morador, como já acontecia com os Passadiços do Paiva. Válido por três anos, esse documento tinha um custo de 2,5 euros, mas passa agora a custar 5 a cada renovação, obrigando sempre a marcação prévia da visita à ponte.
Ainda segundo a autarquia, os bilhetes estarão disponíveis online, como anteriormente, e conferem direito a percorrer os oito quilómetros dos Passadiços do Paiva, até porque a nova ponte é um complemento desse percurso turístico sobre as escarpas do rio. Não há, contudo, ingresso a preço diferente para quem quiser visitar apenas a ponte sem aceder ao restante trajeto.
Inspirada nas pontes incas que atravessavam os vales das montanhas dos Andes, a ponte pedonal “516 Arouca” liga a margem de Canelas à encosta de Alvarenga a 175 metros de altura sobre a secção mais agitada do rio Paiva. A obra resulta de um projeto arquitetónico do ITeCons – Instituto de Investigação e Desenvolvimento Tecnológico para a Construção, Energia, Ambiente e Sustentabilidade da Universidade de Coimbra, sendo que a empreitada esteve a cargo das empresas Conduril e Outside Works.
As questões ambientais.
Tal como já noticiamos a associação ambientalista S.O.S Rio Paiva já manifestou algumas preocupações sobre a abertura da nova ponte, defendendo que o investimento em estruturas turísticas tem que ser acompanhado por medidas de “controlo de espécies invasoras” e por “um forte investimento na eliminação da poluição com origem nas estações de águas residuais a montante” do concelho, nomeadamente nos municípios de “Vila Nova de Paiva e Castro Daire”.
Argumentando que a ponte “pouco vem acrescentar à forma como é usufruído” um troço do território que “sempre foi valorizado por ser um dos mais bem conservados e selvagens do rio Paiva, introduzindo apenas a componente da adrenalina e todo o mediatismo inerente” à obra, a associação apela a que se evitem “os graves problemas que surgiram após a abertura dos Passadiços em 2015” devido ao excessivo fluxo de turistas.
Questionada sobre essas preocupações, Margarida Belém declarou, também à agência Lusa, que a construção da ponte “516 Arouca” integra uma estratégia de “dinamização turística e económica que é fundamental para a fixação da população e para a geração de riqueza a nível local”, sobretudo no caso de um “território de interior” como o que está em causa.
A autarca realça, contudo, que a mesma estratégia obedece também a uma missão pedagógica de responsabilidade ambiental e social: “Queremos que quem nos visita se aperceba do património riquíssimo e singular que está a observar, experienciando uma notável obra de engenharia com selo totalmente nacional e, ao mesmo tempo, despertando para a crescente necessidade de preservar a nossa biodiversidade. Queremos continuar a afirmar Arouca como um destino verde, sustentável, com uma oferta de qualidade e diferenciadora”.
A presidente da Câmara afirma que a receita resultante dessa procura turística “tem permitido reforçar a intervenção da autarquia a nível ambiental” e dá dois exemplos: “Temos em implementação um projeto de recuperação da galeria ripícola do Paiva que contempla, entre outras intervenções, a remoção de espécies invasoras. Temos também em curso uma experiência-piloto de serviços de ecossistema, de forma a criar opções de diversificação económica em contexto de gestão florestal sustentável no município”.
Quanto aos focos de poluição com origem noutros concelhos, Margarida Belém observa: “Temos encetado todos os esforços junto das entidades competentes para a resolução desse problema, mas projetos como o da ponte ‘516 Arouca’ revelam-se fundamentais para exercermos maior pressão sobre as autoridades, dada a maior visibilidade que estes recursos turísticos conferem a qualquer ocorrência poluidora”.
Vereadores do PSD questionam “outros valores que não só o da entrada”
Após a reunião em que se abstiveram sobre o preço a pagar na passagem da ponte, os Vereadores do PSD, Fernando Mendes e Vítor Carvalho, tornaram público uma posição sobre o “questionamento ao executivo sobre outros valores que não só o da entrada”.
Para estes autarcas “o valor da entrada e todo o «barulho» que se faz à volta dele, ajuda a mascarar outros valores e encargos que poderão estar “escondidos, porque não interessam saber. Mas nós Vereadores do PSD Arouca queremos saber e queremos que os Arouquenses saibam”. Para Fernando Mendes e Vítor Carvalho “interessa saber se uma obra financiada pode ter preçários deste tipo. Pois trata-se de uma obra pública que é e todos”.
Depois de lembrar que naquela reunião foi apresentada “uma proposta de fixação do valor do preçário, cujos fundamentos assentam na análise de “outras pontes visitáveis, nomeadamente a Zhangjiajie Glass Bridge (China) e a Ponte da Arrábida (Porto), com custos de cerca de 17€ e 17,5€, respetivamente”, os autarcas assumem que “desta forma, para além de controlar acessos, a aplicação deste custo servirá para fazer face aos custos previstos de manutenção inerentes à infraestrutura e contratação de pessoal necessário para controlo e realização das visitas.”
Sobre esta matéria, e para si, “a tomada de decisão, como é óbvio, a informação disponibilizada é manifestamente insuficiente, tanto mais o peso significativo de recursos financeiros e do investimento que, sem contemplar os custos indiretos e ainda de forma inacabada ronda os quase 2.300.000€ (valores com IVA)”, pelo que solicitaram à Presidente da Câmara, a previsão dos custos na manutenção com “pessoal, seguros, segurança, entre outros correlacionados…, assim como objetivos e receitas previstas tendo em conta o número e natureza dos visitantes”