Na passada segunda feira dia 10 de janeiro, a Rádio Regional de Arouca em parceria com o Jornal Discurso Direto realizou um debate entre o deputado Francisco Ferreira, do PS, e Rui Vilar, do PSD. Inicialmente, esperava-se a presença de Pedro Vieira deputado CDS, no entanto, este enviou um comunicado onde justificava a impossibilidade de estar presente para o evento. De notar que este debate já tinha sido adiado uma vez, devido ao falecimento do professor Correia Belém, pois já era para ter decorrido no passado dia 3 de janeiro. O debate foi moderado por Manuel Amorim.
Durante as quase duas horas que durou o frente a frente foram focados muitos temas pertinentes distribuídos por 11 questões dirigidas a ambos os deputados.
O balanço dos três anos de mandato deste executivo e os aspetos positivos e negativos inerentes ao mesmo dividiram opiniões entre os oponentes. Aspetos como o índice de riqueza, o poder de compra, o emprego jovem, a habitação, a fixação de empresas e o turismo foram os assuntos centrais no que toca à avaliação dos últimos três anos de executivo PS. O orçamento e as GOP (Grandes Opções do Plano) foram igualmente assuntos bastante debatidos, isto porque Rui Vilar frisou que as verbas destes últimos se destinaram quase exclusivamente para a manutenção dos passadiços e para a finalização da ponte suspensa, sobrando muito pouco para as restantes áreas. Já Francisco Ferreira olhou para a questão de outro prisma, salientando que o mandato deste executivo não tem sido fácil, desde o início, devido ao incêndio em Mansores e que continua difícil devido ao contexto epidemiológico. Salientou ainda que o executivo municipal tem respondido equilibradamente às crises que têm surgido, e que, no geral, tem respondido a todos os desafios. Francisco Ferreira não negou, em resposta ao deputado do PSD, que o trabalho tem sido de continuidade em relação ao mandato de Artur Neves, no que respeita à finalização de obras que já estavam agendadas, e que outras obras ainda se irão realizar.
A relação entre os autarcas de freguesia com o executivo foi uma das perguntas que indignou mais os participantes devido à sua formulação.
“O importante é que os fregueses de cada freguesia estejam satisfeitos com o trabalho que esses mesmos presidentes de junta têm desenvolvido. Estou satisfeito com a generalidade dos presidentes de junta de freguesia porque de facto eles fazem muito com muito pouco” R.V.
Rui vilar frisou ainda que há muito que a batalha do PSD é destinar mais verbas às Juntas de freguesia, isto porque considera serem os autarcas mais próximos da população e que têm mais legitimidade.
A aprovação do orçamento para 2021 no passado dia 29 de Dezembro e das GOP para 2021/2024, e o facto de terem recebido exclusivamente os votos favoráveis do Partido Socialista foi um tema fraturante na discussão, visto que as opiniões divergiram bastante entre os dois deputados.
“O orçamento deste ano refere-se exclusivamente a verbas para a ponte suspensa e para os passadiços e o que sobra foi-se distribuindo sem qualquer orientação estratégica para o desenvolvimento do Concelho de Arouca. Num ano em que se prevê um aumento das competências das autarquias no que concerne à saúde, a CMA reserva apenas uma verba de 20 000 euros para a saúde “ R.V.
Por sua vez, Francisco Ferreira acredita que o orçamento não foi algo decidido ”à toa” e que a câmara, inclusive, reuniu com os presidentes de junta antes de elaborar estes documentos. O deputado salientou que cerca de 50% do orçamento está virado para a educação e os serviços, desmentindo assim o seu oponente.
Relativamente ao que se debateu no que respeita à pandemia de SARS-CoV-2, e os esforços que os autarcas fizeram assim como a população, as opiniões de ambos foram assertivas ao afirmarem que todos convergiram esforços para melhorar a resposta a esta doença, tanto os portugueses como os arouquenses.
No ponto de vista da ação política local e o que deveria ser feito num futuro imediato no ponto de vista económico, Rui Vilar referiu que não é apenas o setor da restauração a passar mal e que muito mais tem de ser feito, tal como, apoios ao emprego e à habitação
“O que é que um habitante de Chave ou Rossas vai ganhar com a ponte suspensa? A mim preocupa-me de facto o que é que os arouquenses ganham.” R.V.
O deputado social democrata acredita que há que apostar nas zonas industriais e dotá-las de condições, para que dessa forma se possa atrair trabalho. Por sua vez, Francisco Ferreira proferiu que obras como os Passadiços do Paiva e a Ponte suspensa fizeram aumentar os alojamentos locais. Ainda frisou que mais de 50% dos arouquenses não pagam impostos e que a Câmara Municipal criou um gabinete para que os comerciantes se pudessem candidatar a apoios devido ao contexto pandémico atual.
“Show of é a retórica populista do PSD de querer criar tudo e mais alguma coisa em relação a medidas, sem depois saberem onde irão buscar o dinheiro” F.F.
O preço em que se encontra a água em Arouca também foi dos temas mais polémicos, isto porque há conhecimento da realização de uma auditoria por parte empresa Fining Future Options requerida pela câmara, no seguimento de várias queixas por parte dos cidadãos arouquenses e da oposição.
Francisco Ferreira defendeu o executivo ao afirmar que não é a Câmara que estabelece o preço da água, e que a tarifa é estabelecida pela Entidade reguladora.
“A qualidade da água aumentou bastante, e agora já não há arouquenses a ficarem sem água no Verão. Todos queremos saber o que se passa. Não é normal receber uma leitura de contador que não corresponde à realidade”F.F.
O deputado do PSD apelou à memória dos ouvintes remetendo-se para 2012, ano em que se fez a proposta à assembleia municipal para a concessão da parceria águas do Douro e Paiva. Já naquela altura, e como prova a ATA de 28/12/2012, salientada por Rui Vilar, o PSD absteve-se e Óscar Brandão afirmou ser uma medida que trazia subjacente um interesse em aumentar o preço da água. Para finalizar acrescentou que se verificam na auditoria algumas incongruências.
“Fomos buscar um tipo que está a fazer uma auditoria á câmara Municipal com a empresa das águas, alguém que tem um currículo ligado às empresas de concessão” R.V.
Quando foi perguntado aos participantes qual consideravam ser o maior entrave ao desenvolvimento do concelho, Francisco Ferreira referiu a falta de acessibilidades do concelho que criam tanto a nível industrial, como para quem habita em Arouca problemas de deslocação. Aproveitou ainda para enaltecer o trabalho feito pelo executivo de António Costa que no seu orçamento de estado decidiu incluir a construção de parte da variante. Rui Vilar, por sua vez, acredita que sem emprego, sem apoio às empresas e sem a fixação de jovens no concelho este não se pode desenvolver. No final do debate foi questionado se o facto de a Presidente Margarida Belém ter sido feita arguida no processo judicial que investiga as lojas de turismo poderia condicionar as eleições autárquicas para 2021. Tanto Rui Vilar como Francisco Ferreira afirmaram ter total confiança nas instituições e que se deve aguardar pelo desfecho do processo.
“As pessoas têm direito à presunção de inocência. Quando se acredita nas instituições tem de se acreditar no trabalho delas. Nós enquanto partido Socialista temos total confiança na nossa Presidente” F.F.
A notícia relativa à suspensão do mandato do engenheiro Artur Neves e o anúncio de que não será candidato nas próximas eleições autárquicas não criou admiração nos participantes, pois ambos acreditam que se alegou razões pessoais, tem todo o direito de o fazer.
No final Rui Vilar ainda proferiu que tem a expectativa de ganhar as eleições autárquicas deste ano, que a equipa que irá formar tem competência, frisando que o projeto do PSD é totalmente diferente do projeto do PS e que ainda têm muito tempo para escolher o candidato. Apesar de não confirmar Margarida Belém como candidata às próximas eleições, Francisco Ferreira partilhou a sua confiança neste executivo, e que, caso a atual presidente se recandidate terá todo o seu apoio.
Os deputados terminaram o debate deixando uma mensagem, a pedido do mediador Manuel Amorim, de força, união e apelo à responsabilidade das pessoas, não esquecendo de mencionar aos ouvintes que só juntos e com responsabilidade poderemos ultrapassar atual crise.
Texto de Ana Castro
Foto: Carlos Pinho