Há dias, numa das minhas incursões por feiras de velharias, encontrei um pequeno e raro livrinho de poemas da autoria de Vidal Oudinot: Natureza (versos), uma 1ª edição e quiçá única! São 53 páginas de interessantes versos, em que as primeiras quadras, intituladas “Profissão de Fé” são dedicadas ao Prémio Nobel português da Medicina – Egas Moniz. Dois poemas-canção – “Plantação da árvore” e “Barcarola” – aparecem com suplementos de pautas de músicas de José Maria Cordeiro.
A dedicatória das primeiras quadras despertou-me curiosidade e fui investigar o autor. Qual o meu espanto quando constato que (Reinaldo) Vidal Oudinot nasceu na vila de Arouca, a 9 de Março de 1869, filho de Fortunato Ferreira Vidal, escrivão da Fazenda de Arouca, natural de Vagos, e de Maria Emília Rangel de Quadros Oudinot, natural de Aveiro, moradores na Rua de Sto. António, na vila de Arouca. Filho e neto de ilustres aveirenses, foi poeta, escritor, pedagogo, jornalista e desportista.
Segundo a Wikipédia, “Vidal, após terminar os seus estudos dedicou-se ao negócio da família: a exploração de uma farmácia. Tinha porém inclinação pelas letras, compondo poemas desde a sua juventude.
Após o seu casamento radica-se na cidade do Porto onde foi professor primário por vários anos. Mais tarde foi Inspetor do Ensino Primário.
Entusiasta desportista, funda e é o primeiro diretor da revista que inaugura em Portugal o jornalismo desportivo: O Velocipedista, órgão do Clube Velocipedista do Porto, com sede no Campo dos Mártires da Pátria, no Porto, com periodicidade quinzenal (68 edições, de 01/03/1893 a 15/12/1895). Foi ainda diretor da revista literária Os Novos” (1889).
Para além disso, foi também sócio fundador da “Luzostela” – a primeira fábrica portuguesa de lixa, cuja escritura foi lavrada dois anos após a sua fundação na vila de Soza, concelho de Vagos, a 1 de fevereiro de 1906. Reinaldo Vidal Oudinot residia, nessa altura, em Sarrazola, freguesia de Cacia, Aveiro.
Morre, aos 63 anos, a 29 de julho de 1932, na cidade do Porto.
A uma rua em Aveiro, mais propriamente na Urbanização Sudoeste de Cacia, foi dado o seu nome – Travessa Vidal Oudinot.
Oudinot foi professor primário e inspetor escolar, tendo exercido nos círculos de S. Pedro do Sul, Tomar, Porto e Viana do Castelo.
Maria João Mogarro, no seu trabalho “Património e Quotidiano Escolar”, que integra a obra Nos cem anos da reforma: o quotidiano na escola republicana, publicado em 2011, faz uma análise às escolas públicas da 1ª República e à ação dos professores nessa época. Nele refere como “particularmente interessante a obra publicada por Reinaldo Vidal Oudinot intitulada Ação (intra e extraescolar: notas dum inspetor escolar, publicada em 1915, onde traçou um retrato do sistema educativo português durante o tempo da Primeira República. Descreve-o como “mação e republicano convicto” e, a dado passo, afirma que … “na dura realidade do sistema educativo do país na época, Vidal Oudinot foi uma voz republicana e laica que não denunciou apenas a situação que se vivia, mas que incansavelmente pôs em prática uma ação para a sua transformação, no sentido de construir uma escola segundo os princípios da nova pedagogia”.
M. Artur Miller