Na primeira semana do ano, nomeadamente no dia 9 de janeiro, em Santa Eulália e Moldes, foram abatidos cerca de 60 sobreiros, carvalhas pequenas, uma oliveira de grande porte, cerejeiras, castanheiros pequenos, para replantar, e também videiras “por uma empresa subcontratada pela EREDES”. O DD recebeu o alerta pela parte de dois proprietários, que se sentem injustiçados, uma vez que foram surpreendidos com a quantidade e qualidade de árvores cortadas, além de afirmarem não terem sido avisados com a antecedência devida.
Um corte sem critério-Santa Eulália
Marianna Holz, uma das proprietárias da Quinta da Regadas, relatou ao DD, no local, que no terreno em que é proprietária passa uma linha de média tensão, sendo que a empresa EREDES é alegadamente responsável por fazer a manutenção debaixo desta linha. “Eles já cá tinham vindo uma altura, mas nós não estávamos em casa, apenas estava a nossa vizinha e ela mandou-os embora, porque eles vinham sem autorização”, adiantou a jovem. “Entretanto voltaram na passada segunda-feira”, altura em que a vizinha liga ao namorado de Marianna para o avisar da presença desta empresa, e da sua intenção. “O Andreas perguntou se eles tinham autorização para fazer o corte de árvores”, autorização essa que esta empresa subcontratada pela EREDES enviou para o email da proprietária. Esta autorização referia que a EREDES tinha solicitado ao ICNF o abate de 8 sobreiros adultos, todavia a autorização, tal como a testemunha nos indicou, não descrevia a propriedade em questão e a devida localização, apenas indicava a freguesia de Santa Eulália.
Apesar de Marianna saber, na altura, que “não podiam fazer nada para impedir o corte das árvores”, pediu a Andreas para conversar com os técnicos de modo a propor uma poda em vez do abate, uma vez que as árvores “não estavam a por a linha em perigo”. Esta solução foi posta de lado pela empresa que se decidiu por cortar. O sobreiro é uma árvore protegida por lei, e, segundo a entrevistada, aqueles “não estavam marcados”, tal como obriga a norma. “Por exemplo cortaram os sobreiros, que não estavam a por em perigo a linha, e este castanheiro, mesmo debaixo, nem sequer lhe tocaram”, informou, lembrando que não houve ali um critério bem definido. “Quando têm de abater sobreiros têm de vir ao local marcar as árvores que vão ser para cortar”, situação que segundo MH não aconteceu. “Não fomos avisados da visita, além de que o ICNF não fez a identificação das árvores que deviam ser abatidas”.
“Na lei diz que não se pode abater sobreiros a partir de um metro de altura. Naquele dia não consegui ver o que havia acontecido, porque já cheguei de noite, mas no dia seguinte vim cá e comecei a contá-los um a um e consegui contar 40 sobreiros cortados”, esclareceu indignada.
Mais informou que contactou de seguida o SEPNA (Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente), explicando-lhes a situação, “formalizei depois a situação via email e eles ligaram-me logo no dia a seguir, sendo que lhes contei a situação”. No dia 12, o SEPNA veio à propriedade para analisar o sucedido, e a partir de uma contagem detalhada aperceberam-se que haviam sido cortados 60 sobreiros, pelo que disseram que “aquilo nunca devia ter acontecido pois os sobreiros nem sequer estavam identificados, e, certamente, não eram os 8 sobreiros que estavam referidos na autorização”. O serviço de proteção da natureza esclareceu que a situação se trata de um crime público contra a natureza, e que é algo que querem levar a tribunal, apesar de ainda estar na fase inicial, tal como nos relatou Marianna.
A proprietária acrescentou que fizeram queixa pois sabem que o sobreiro é uma árvore protegida, tal como está descrito no Diário da República-Decreto Lei nº 155 de 30 de junho de 2004 e Decreto Lei 169 de 25 de maio de 2001. “Só tínhamos mesmo sobreiros e eles vêm e cortam especificamente essas árvores. No meu entendimento eles preferiram cortar pelo pé do que andar a fazer todos os anos as podas, pois aí teriam de ter esse cuidado de vir todos os anos fazer a poda. Até nós a poderíamos fazer, mas eles nem sequer deram essa oportunidade porque não conversaram connosco”, clarificou. Pelos seus cálculos haviam ali sobreiros com mais de 28 anos, “nunca mais vou ver aqui, na minha vida útil, uma árvore assim.”
MH concluiu o seu testemunho afirmando que queriam alertar para esta situação para promover a importância das pessoas, nestes casos, fazerem a comunicação ao SEPNA, uma vez que é gratuita, “basta ligar para eles virem cá averiguar a situação”. “Não entendo esta situação porque até nos incentivaram a plantar árvores autóctones e agora fazem isto, cortar pelo pé árvores que apenas necessitavam de uma poda. Isto no fundo leva-me a crer que não podemos é plantar nada.”
José Martins-Moldes: “Parece que aterrou um avião no meu terreno”
A situação repete-se em Moldes, na propriedade da filha do Sr. º José Martins onde a mesma companhia alegadamente mandou cortar, também pela via de uma empresa subcontratada, castanheiros, oliveiras e destruiu videiras causando até prejuízos materiais ao proprietário. “Eles deviam ter avisado! Há árvores que são da minha altura que nem sequer chegavam à linha e estão lá cortadas, e videiras e tudo. Aquilo parece que aterrou um avião no meu terreno. Não houve um telefonema nem nada”, relatou o octogenário indignado.
O moldense deparou-se com o “cenário” na primeira semana de janeiro quando veio das férias de fim de ano na França, “até foi a minha mulher que veio ter com eles para lhes dizer para pararem e o técnico que falou com ela era ucraniano.”
No local deparamo-nos com uma oliveira de grande porte abatida, assim como vários castanheiros, duas cerejeiras, e até um alfobre de pequenos castanheiros que o idoso tinha para transplantar para outros locais foram cortados pelo pé. “E agora quem vai arrumar? Antigamente eles mandavam uma circular e perguntavam ao dono onde queria que depositasse a lenha. Hoje em dia as pessoas não são avisadas, eles fazem aquilo que querem, sem verem aquilo que podem cortar e o que não podem. Não utilizam a poda ao invés do abate para casos em que se podia aplicar a poda”, desabafou José Martins.
Antes do DD sair do local ficou ainda a saber pelo proprietário que a oliveira cortada tinha mais de 200 anos, “a minha mulher quando os viu aqui devia ter telefonado à GNR para aqui vir, pelo menos tomavam conta da ocorrência e ficava registado”, acrescentou o idoso que é o responsável pelos bens da filha. Além disso referiu que lhe arrasaram uma parreia que sustentava as suas videiras, assim como as próprias videiras, e não deram qualquer justificação para esse ato.
O DD contactou por email a empresa EREDES, para questionar o porque destes alegados atos, todavia até ao fecho desta reportagem não obteve qualquer resposta.
Texto: Ana Castro
Fotos: Carlos Pinho