José Augusto Oliveira, Graça Brandão e Adélia Dias são três dos mais antigos artesãos arouquenses que se encontram no ativo, atualmente. Os artistas receberam o DD no CI3, Centro de Ofícios de Arouca, onde numa conversa descontraída contaram como iniciaram a sua atividade, o que os inspira, quais as matérias primas prediletas, o que pensam do futuro da profissão, onde podemos encontrar os seus produtos e muito mais.
“Eu sou livre”
José Augusto Oliveira iniciou a sua atividade como artesão, há vinte anos, a partir de um pedido da sua mulher, para restaurar umas soquinhas de madeira. Após o restauro ser bem-sucedido viu como tinha jeito para a arte, e como tinha capacidade para fazer esse tipo de objetos. “Comecei a fazer só socas”. A seguir vieram os “canastros, garrafas com escadinhas dentro”, e a partir daí foi “sempre a inovar” até às pequenas casinhas em íman com ardósia, chaveiros, quebra nozes, cadeiras para criança, mealheiros e até presépios.
No que toca às matérias primas, revelou que têm vindo a encarecer cada vez mais, de maneira que já parou de fazer as peças maiores, porque “são caras” e as pessoas compram menos, e assim não tem prejuízo.
O problema de saúde que teve há 10 anos foi também o fator que o fez dedicar-se ainda mais ao artesanato, para se manter ocupado e motivado. Tal como fez questão de acrescentar, cada dia é “uma surpresa”, pois pode acordar com a ideia de fazer um objeto e ao chegar à sua oficina muda de ideias para outra coisa. “Sou livre”, salientou.
Aposentado do setor público, informou que de Inverno não consegue retirar muito retorno financeiro da atividade, mas de Verão sim, pois faz as feiras, e há mais fluxo turístico. “Cada vez que faço uma peça nova fico apaixonado por ela, e posso dizer que tenho trabalhos espalhados por todo o mundo”, denotou.
Revelando que todos os dias faz um bocadinho de artesanato, nem que seja “uma hora ou duas”, e que tem o “bichinho” de criar estas peças, contou também que ainda há muitas pessoas que se queixam do preço dos seus produtos e que não devem fazer ideia que são todos “feitos à mão”, pois nenhuma “é igual”.
As matéria primas de base que José Augusto Oliveira utiliza é a ardósia, pedras da Serra da Freita e Mealha, o mármore pois “é uma pedra certinha”, madeira, e, além disso, também usa cola, pregos, e dobradiças pequeninas.
O artesão contou, durante a conversa, que até já expôs na Expo98, onde estiveram centenas de artesãos e que vendeu várias peças.
A abertura do CI3 foi uma mais valia na perspetiva do manufator, uma vez que tem sido uma oportunidade para que vender as peças que tinha em casa “e não tinham saída”. Esta loja tem a mais valia de estar localizada “no centro da vila”, e ter a porta aberta “para os turistas”. O produto mais vendido por JAO são as casinhas em íman.
O fabricante crê que as gerações mais novas não se interessam muito pela aprendizagem do artesanato, pois estão mais ligados às tecnologias “computadores”, explicando que seria uma mais valia existirem disciplinas onde se colocassem os jovens em contacto com o artesanato nas escolas. “O artesanato vai acabar por se extinguir, porque não há quem queira aprender, e quem se interesse em ensinar, ou algo para promover a atividade nos mais pequenos.”
“Não é só jeito é muita inspiração e muito trabalho”
“Comecei a trabalhar com a minha mãe, porque ela tinha uma máquina de tricotar e eu fazia as peças com ela na máquina, depois ela também teve um tear, e eu aprendi com ela”, começou por inteirar Graça Brandão, também artesã no CI3. De seguida, revelou que foi trabalhar, apesar de estudar ao mesmo tempo, chegando a frequentar o Curso de Belas Artes no Porto. No entanto foi apenas quando se reformou, e quando ficou mais por casa que decidiu “fazer um tear”, e começar a realizar as suas peças. Quando lhe dissemos que tinha jeito para o artesanato logo rebateu que não se trata só “de jeito”, mas sim de “muita inspiração e muito trabalho”. Quase todos os seus trabalhos demoram várias “horas de trabalho” a serem concluídos.
A artista domina as técnicas do macramé e croché, entre outras, que foi desenvolvendo sozinha. Sendo já reformada pode dedicar-se ao artesanato sempre que lhe “apetece”, e acaba por ir fazendo sempre, pois possui igualmente “o bichinho”, e nunca realizou “uma peça igual”. Chegou até a fazer uma “vaca arouquesa”, que tem em casa para um evento “em tamanho real”, numa técnica em arame dobrado.
Muitos dos seus clientes vão diretamente ao seu atelier, situado na sua residência em Urrô, para adquirir peças. Todavia “toda a gente se queixa do preço”, pois muitas pessoas “não sabem o tempo que demora fazer certas peças”. Não obstante, costuma participar numa feira de exposição em Vila do Conde, e aí as pessoas “procuram sempre peças grandes” e “nunca as mais pequenas”.
A artista trabalha com muitos materiais tais como lã de feltragem, sedas, cerâmica (mais antigamente), e com o tear, apesar de agora como lhe custa estar de pé, ter feito coisas mais “miudinhas”. Quando questionada sobre se o preço das matérias primas que usa ter aumentado referiu que sim, mas que momentaneamente não é impeditivo pois possui “muito material”. “O CI3 é uma mais valia” rebateu a profissional pois, apesar de vender coisas também noutros locais, quando vem para ali estou acompanhada e é agradável”, acrescentou relativamente ao Centro de Ofícios de Arouca. Os interessados nos trabalhos de Graça Brandão além de poderem visitar o CI3 podem também passar por sua casa local onde tem o seu atelier e a sua arte totalmente exposta.
*Para ler a reporatgem
completa consulte a nossa edição impressa já nas bancas;
Fotos: Carlos Pinho