Durante muitos anos, aos domingos, em Arouca, aparecia um homem com a sua esposa, que na Praça Brandão de Vasconcelos, montava numa pequena mesa um boneco de plástico, com as entranhas à vista, e começava a falar de muitas doenças que afligiam as pessoas.
Juntavam-se muitas pessoas em roda para o ouvirem.
Também na pequena banca, tinha alguns jornais (alguns já bastante coçados pelo tempo), que noticiavam falecimentos de pessoas, principalmente de “doenças súbitas”.
Era um gosto ouvi-lo. O homem falava das doenças com uma “sabedoria” espantosa.
As pessoas presentes, muitas delas analfabetas, ouviam religiosamente tudo o que o homem dizia.
Depois de bastante tempo de “sermão”, dizia então ao que vinha.
Anunciava uns “medicamentos”, que eram infalíveis para curar todas aquelas doenças, e de um modo especial as “doenças súbitas”, que provocavam a morte a muita gente.
Algumas vezes exibia um jornal com a figura de um homem de grandes barbas, idoso de mais de 100 anos, russo, para convencer as pessoas do seu remédio “milagroso”.
As pessoas então puxavam pela carteira e lá iam comprando os “remédios milagrosos”, principalmente pomadas, para esfregarem no corpo.
Depois de fazer o negócio, arrumava a “ferramenta” no automóvel, e ia-se embora.
Isto, durante muitos anos, animou a nossa Praça aos domingos. Já há bastantes anos que tal personagem não aparece. A pessoa em causa talvez já tenha falecido, pois já era de bastante idade.
Desde criança, que me lembro da figura desse homem.
Era um dos chamados popularmente como “vendedores da banha da cobra”.
Agora os ditos “vendedores da banha da cobra”, utilizam os canais de televisão, além de outros meios de comunicação, que a todas as horas do dia, e até da noite, nos entram pela casa dentro, prometendo curar todas as doenças, investindo pouco dinheiro e ainda oferecendo vários objectos (uns benfeitores!…). O negócio deve ser bom, pois os gastos na publicidade devem ser de monta.
Lamenta-se, principalmente que os canais de serviço público, suportados pelos nossos impostos, se prestem à propaganda desses produtos, com a intervenção dos seus profissionais (figuras públicas e queridas dos tele-espectadores), sirvam para impingir aos cidadãos essas “mèzinhas”, que só servem para encher os bolsos a alguns espertalhões, à custa da ignorância do povo.
Se esses produtos são assim tão bons, que “curam tudo”, para que existem os médicos e o SNS?
É tempo de os responsáveis pela saúde dos portugueses, olharem para estes casos, para o bem de todos nós.