O programa radiofónico “Despertar de Sábado”, fundado por Manuel António Conceição e Isabel Paiva, celebrou o seu 38.º aniversário, no passado dia 8 de junho de 2024. O DD teve oportunidade de falar com o conhecido locutor e com a sua neta, Lara, que além de demonstrar talento para a rádio, faz também parte da história desta programação nos últimos anos.
Manuel António Conceição teve, desde jovem, interesse nas tradições e no folclore, começou aos 16 anos no Rancho Folclórico As Lavradeiras de Mosteirô, Arouca, onde diz ter aprendido “o que era verdadeiro folclore”. Também desde jovem acompanhava a Rádio Renascença, mas adianta que nunca pensou “que um dia poderia participar num programa de rádio”. Ainda assim, manteve sempre a ligação com o folclore tendo começado a ensaiar ranchos com 18 anos, e continuado no ativo, nessa área que lhe é tão querida, até hoje.
A ideia para o programa Despertar de Sábado surgiu em maio de 1986, no final de ensaio do Rancho Unidos de Rossas, quando conversou com Isabel Paiva, uma jovem também ligada ao folclore e tradições, sobre a criação de um programa que teria como objetivo “divulgar as tradições dos tempos passados”, contou Manuel António. Isabel apesar de ainda estar a estudar aceitou o desafio.
Este projeto surge temporalmente próximo da altura em que começaram a aparecer as rádios piratas. A Rádio Regional de Arouca, onde se inseriu este projeto, surgiu por volta de abril do ano de 1986, inicialmente também como uma rádio desse género.
Em junho de 1986, Manuel António, contactou Adelino Pinho e apresentou a ideia de programa, este aceitou questionando logo “qual o dia e hora para começar”, conta o comunicador. “Tinha poucas músicas para preencher as duas horas de programa, mas rapidamente arranjei 10 cacetes de grupos da região” e “no dia 8 de junho das 7 às 9 foi para o ar”, explicou.
“Passado alguns meses veio a lei para que as rádios regionais fossem legalizadas” conta o locutor, explicando que ficou reticente sem saber se o projeto teria futuro, mas desde logo Adelino Pinho mostrou abertura, pedindo até para o “ajudar na montagem da antena do emissor no alto da Sra. da Mó”, concluiu.
“O folclore não é só uma dança, tem jogos tradicionais, o trabalho das pessoas, os cânticos”
O programa, que conta com bastante audiência em várias zonas do país, tem o seu tempo de antena todos os sábados, das 8h00 às 12h00. “Atualmente a primeira hora é dedicada ao folclore, eram duas horas, passou por uma hora” revelou o comunicador, “duas horas de mensagens”, que chegam de todos os lados do país e até de outros países, e a última hora é dedicada a “música portuguesa ou entrevistas”.
Manuel António recordou alguns dos ranchos e grupos que já passaram no seu programa, “da zona até Tomar”, “do Algarve, dos Açores”, e da “Madeira”. Relembrou igualmente, olhando para o seu grande arquivo, várias das reportagens que já fez ao longo da sua carreira, chamando à atenção para algumas como, “a história dos últimos moradores de Drave”, “as minas de Volfrâmio”, locais que percorreu.
Guarda no seu arquivo diversos artigos coletados em todo o país, durante os últimos 38 anos, juntamente com diversos artigos oferecidos por pessoas e grupos que participaram no seu programa, ou fizeram parte deste projeto de alguma forma. “Está tudo aqui arquivado” salienta.
O radialista contou também ao DD aquele que foi um dos momentos mais marcantes que viveu durante este percurso, o “Convívio dos Amigos do Folclore no recinto da Sra. da Laje, Serra da Freita” que se tornou “maior sucesso de todos os tempos” e “ficou marcado na história de Arouca”, destaca.
“O segredo para manter viva” esta iniciativa, “durante estes 38 anos, são os ouvintes que nos acompanham no programa, que nos trazem e transitem alegrias”, tanto “no meu programa como nos outros da rádio”, confessa, Manuel António, acrescentando que “nestes 38 anos” conseguiu “formar uma grande família de milhares de ouvintes” espalhados por Portugal pelo estrangeiro. “Sinto-me feliz”, confessou.
“O meu avô é uma das pessoas mais incríveis que conheço e sempre o tive como inspiração”
Lara Conceição, neta de Manuel António, expressou também ao nosso jornal, o carinho e admiração que sente pelo avô, que acompanha desde pequena e sempre que tem oportunidade. “Quando era pequena adorava ir aos sábados com o meu avô ouvir música, dançar, e estar com ele principalmente” conta. “Uma das melhores memórias que eu tenho com o meu avô, relacionada com a rádio, foi uma brincadeira que ele decidiu fazer comigo quando eu tinha cerca de 5 anos, gravamos um CD com um programa feito por mim, em que colocava músicas infantis e lia histórias através das imagens, foi um momento muito agradável e sempre que voltamos a ouvir o CD fico com saudades daqueles momentos”, recordou a jovem.
Lara revela que antes “não tinha tanto a perceção do quão grande era a audiência da rádio regional de Arouca” e agora que sabe, valoriza ainda mais o trabalho do avô, desde que se lembra que ele “adora falar com pessoas, contar as histórias do passado, para que elas não desapareçam, colocar música para animar as pessoas”. Considera ainda que “ele é o melhor a fazer esse trabalho”.
A jovem acrescentou que o seu futuro profissional não será na rádio, pois tem “outros objetivos”, mas sempre que conseguir irei visitar a rádio e “fazer alguns programas”. Não obstante, conta como se sente na rádio, “é muito agradável falar com várias pessoas e ouvir o que elas têm para nos contar, principalmente quando os ouvintes ligam e dão-me os parabéns por estar a realizar um bom programa”.
Referiu ainda sempre ter achado “muito engraçado o facto” do seu avô na rádio saber o nome de todas as pessoas que ligam e só pela voz. “Eu mesma, já estando com ele no programa há muito tempo, continuo sem conseguir associar o nome das pessoas à voz”, nota. Finalizou a conversa destacando de forma carinhosa que “foi ele” quem lhe ensinou “muitas coisas” que hoje sabe, e a companhia dele “melhora muito” o seu dia. “O meu avô apoia-me em tudo e anima-me sempre que eu preciso”, conclui carinhosamente.
Texto: Ana Margarida Alves