“Quem assume um compromisso deve estar disposto a dizer sim e seguir em frente”

Entrevista a Carlos Brandão Presidente da AECA

Mais uma vez a AECA organiza em parceria com a Câmara Municipal de Arouca a Exposição das Atividades Económicas do Concelho, inserido na feira das colheitas, no pavilhão da ESA. Aproveitando a oportunidade fomos ouvir o seu Presidente, Carlos Brandão, sócio-gerente da Chatron e que preside a esta Associação há 8 anos a esta parte.

 

DD:Pode fazer-nos um balanço dos seus últimos 8 anos enquanto Presidente da AECA?

CB:Estou a concluir o meu segundo mandato na Presidência da AECA, e ao longo desses 8 anos houve tempo para realizar muitas coisas importantes. No entanto, alguns projetos ficaram por concretizar, seja por falta de oportunidade, financiamento, ou até por desinteresse por parte dos associados. Liderar uma associação, independentemente da sua natureza—cultural, recreativa, desportiva, empresarial, ou outra—é um desafio constante. Enfrentei dificuldades em mobilizar os meus pares e os associados de forma contínua, exceto em eventos marcantes como aniversários, encontros temáticos, e outras ocasiões onde a presença era imprescindível. Apesar de expressarem confiança, muitos têm razões legítimas para não se envolverem mais ativamente, dado o ritmo acelerado da vida moderna, que nos deixa pouco tempo para cumprir todos os nossos compromissos. Eu próprio lido com essa mesma limitação, mas quem assume um compromisso deve estar disposto a dizer sim e seguir em frente.

No meu primeiro mandato, o foco foi consolidar a expansão para Vale de Cambra, angariando e integrando novos associados. Fizemos melhorias na Delegação de Vale de Cambra, inaugurando-a e estabelecendo uma utilização conjunta com a sede em Arouca. Também conseguimos aprovar a candidatura ao programa Masterexport, o que nos permitiu iniciar um projeto de apoio à internacionalização das nossas empresas. Entretanto, a pandemia de COVID-19 obrigou-nos a adaptar e reprogramar a maioria das atividades, o que exigiu um esforço enorme, considerando todos os imprevistos que surgiram.

Durante o segundo mandato, ainda lidamos com a fase final da pandemia, mas foi possível retomar e ampliar as atividades. Concluímos o projeto Masterexport e realizamos iniciativas voltadas para diversos setores—comércio, indústria e serviços—mantendo os associados atualizados sobre a nova legislação e as tendências do mercado. Entre essas iniciativas destacam-se os diversos almoços temáticos, os jantares anuais e o lançamento de duas edições anuais da revista ‘Encontros’, que abordaram temas atuais. Paralelamente, continuamos a oferecer um serviço próximo aos associados, com apoio técnico e jurídico em diversas áreas de atividade.

A formação profissional foi um eixo transversal em todas essas atividades e continuará a ser, pois, o futuro das empresas depende dessa qualificação. Um dos maiores sucessos, na minha opinião, foi trazer a AECA para a era digital, promovendo o uso quotidiano do networking e das redes sociais. Isso permitiu divulgar, para além das nossas fronteiras, o melhor que os nossos associados têm realizado e tornado público.

 

“No meu primeiro mandato, o foco foi consolidar a expansão para Vale de Cambra”

 

DD:O que necessitam as empresas para promover o desenvolvimento destes dois concelhos e a própria região? Mais apoio público?

CB: Acima de tudo, as empresas precisam que as deixem trabalhar sem as constantes alterações na legislação, nas obrigações e nas taxas. É essencial que operem num quadro macroeconómico estável, que permita aos empresários planear os seus negócios a médio prazo—algo que tem sido difícil de garantir.

Além disso, se conseguíssemos reduzir o IRS para os trabalhadores e o IRC para as empresas, haveria mais margem para melhorar os salários e fixar jovens qualificados na região. Isto não só fortaleceria os negócios locais, como também impulsionaria o crescimento da região.

Num outro âmbito mais regional, temos necessidade urgente da conclusão da variante (ligação Escariz-Ribeira), e da ligação Escariz Rossio que permite escoar muita produção das Zonas Industriais da Farrapa/ Rossio e das Lameiradas.

Precisamos também de ampliar Zonas industriais nos dois Municípios e de valorizar as existentes. Em Vale de Cambra, por exemplo, a Zona Industrial Lordelo/Codal é um sucesso, mas terá de ser alargada para poder receber ampliações e novas unidades industriais. A AECA, os empresários, os autarcas e a população terão de trabalhar cada vez mais em conjunto por forma a chegarem a plataformas de entendimento que permitam um melhor futuro para todos. Mais postos de trabalho com melhores condições económicas, sociais e indústrias cada vez mais sustentáveis e amigas do ambiente.

 

“Precisamos também de ampliar Zonas industriais nos dois Municípios e de valorizar as existentes”

 

DD:Tendo a AECA associados em Arouca e em Vale de Cambra, como reagiram os associados a este alargamento e como está a correr?

CB:Está a correr muito bem. Por um lado, nenhum empresário vê fronteiras físicas nos limites dos concelhos. Nenhum vende apenas para o seu concelho. Muitos vendem para todo o País, e estrangeiro. Como tal não são os empresários a colocarem este tipo de questões. Um ou outro comentário, relativamente a este tema, só foi pronunciado por um ou outro candidato autárquico em véspera de eleições, ou jornalistas locais, a perguntarem porque ouviram estes a pronunciarem-se num ou noutro debate autárquico. Fora disso não tenho qualquer conhecimento de questões sobre este tema. Todos são associados por igual com iguais direitos e obrigações, ponto!

 

DD:Relativamente à feira das colheitas que se aproxima (na sua 80.ª Edição), quais são as suas expectativas para mais uma edição da exposição das atividades económicas? Em que se irá centrar e quais os principais objetivos a atingir?

CB:Este ano celebramos um marco significativo: 80 anos da Feira das Colheitas! Embora a AECA exista há apenas 33 anos, desde a sua fundação tem colaborado plenamente com este evento, e este ano não será diferente.

Nos primeiros anos, a exposição das atividades económicas era a principal fonte de receita da AECA, já que os expositores pagavam pelos seus stands, e viam na feira uma oportunidade única de fechar negócios—para muitos, era o único evento do ano. No entanto, com o passar do tempo e o advento do digital, o interesse dos empresários diminuiu, pois, o impacto das vendas na feira já não era o mesmo. Além disso, muitos passaram a participar em feiras mais regionais ou nacionais, voltadas para os seus setores específicos.

Chegámos a considerar interromper a organização do evento, mas a intervenção ativa e decisiva do Município foi crucial para que isso não acontecesse. Adaptámos o evento às novas realidades e, hoje em dia, os empresários participam mais com o objetivo de divulgar as suas atividades, promover produtos, apresentar oportunidades de emprego e atrair recursos humanos. Outros participam pelo espírito de colaboração e networking, enquanto alguns utilizam as redes sociais para amplificar a sua presença no evento, incentivando os seus seguidores a visitarem a feira.

De modo geral acredito que este certame reforça a relação institucional com o Município, é uma fonte de conhecimento, promove o relacionamento entre empresas e fortalece a ligação com estudantes—futuros quadros—e com a comunidade, o que é cada vez mais relevante no contexto da ESG.

 

DD:Como vão haver eleições ainda este ano é oportuno perguntar se se vai recandidatar? Porquê?

CB:Se a minha prioridade fosse apenas o conforto e bem-estar, optaria por não continuar. No entanto, acredito que ainda tenho algo significativo a contribuir, por isso, decidi candidatar-me a mais um mandato, o terceiro e último. Penso que os Presidentes de Associações Empresariais, assim como os das Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia, devem dar o seu melhor, cumprir o seu percurso e, depois, passar o testemunho.

 

 

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