Por: Alberto de Pinho Gonçalves
Até ao princípio do século XX, a vila de Arouca era abastecida somente com duas fontes naturais: a Fonte do Olho, no lugar do Faval; e a Fonte da Ribeira, junto ao rio Marialva, ambas nesta vila.
A água da Fonte do Olho, foi canalizada para a rua Darca, pela Câmara da presidência do Dr. José Gomes de Figueiredo Sobrinho, em finais do século XIX.
As populações, não tinham água em suas casas, e era destas fontes que se abasteciam, para as diversas lides domésticas.
Com a construção da Praça Brandão de Vasconcelos, em finais do século XIX, foi mais tarde erigido no centro da mesma Praça, um chafariz, que muito veio a beneficiar a população.
Com a extinção do Convento de Arouca, a Câmara pediu para que lhe fosse concedida parte da água da Cerca do mesmo, para abastecer o dito chafariz.
Do pedido feito teve a seguinte resposta da Direcção Geral da Estatística e dos Próprios Nacionais, entidade a quem foi entregue os bens dos suprimidos conventos, pela lei de 23 de Maio de 1834, de Joaquim António de Aguiar:
«A Câmara Municipal de Arouca, alegando que na vila não existem fontes que forneçam água suficiente para os usos ordinários dos seus habitantes, pede, numa representação datada de 15 de Novembro último, a concessão de duas terças partes da água de um manancial pertencente ao suprimido convento de Santa Maria de Arouca e que existe no sítio do Canto do Muro ao cimo da respectiva Cerca, para com essa água estabelecer um chafariz no centro da Praça Brandão de Vasconcelos, da mesma referida vila de Arouca.
Em vista da informação prestada em 1 de Maio próximo findo do respectivo Delegado do Tesouro de que as águas pertencentes à Cerca do mencionado Convento que se acham perdidas, por deterioração da canalização são as do manancial existente no Canto do Muro, ao cimo da referida Cerca, – a Repartição é de parecer que essas mesmas águas podem ser concedidas à representante Câmara Municipal, obrigando-se a fazer todas as obras de reparação, canalização ou construção de sua conta e a fornecer a água necessária ao Convento ou qualquer instalação do mesmo quando aplicado de presente ou futuro a qualquer estabelecimento do Estado ou pelo Estado autorizado para fim do bem público, havendo reversão para a Fazenda quando não cumprindo estas clausulas ou quando tal concessão não for cumprida para o fim que foi pedido.
Repartição Central da Direcção Geral da Estatística e dos Próprios Nacionais, em 5 de Junho de 1899»[1].
Claro que na primeira metade do século XX, várias famílias da zona urbana da vila, com poder económico, procuraram ter água em suas casas, mediante a compra do direito de minar nos arrabaldes da vila, e construção das respectivas minas e canalizações ficando, dessa forma, a ter água em abundância. Mas a maioria das pessoas estava dependente das fontes públicas até, em muitos casos, depois do 25 de Abril de 1974. Claro que já as Câmaras anteriores ao 25 de Abril de 1974 (principalmente nas décadas de 50, 60 e 70), começaram a fazer investimentos avultados no abastecimento de água às habitações da zona urbana da vila. Mas o abastecimento público geral de água à população (e mais tarde o saneamento) só chegou a todos os lares, após essa data.
Só, sensivelmente nos últimos 40 anos, é que a vila de Arouca começou a ter saneamento básico das águas residuais; e também a recolha de lixo doméstico.
Antes, nos poucos arruamentos que existiam, haviam caneiros rudimentares, que canalizavam as águas (das casas e das chuvas), para o rio Marialva, que nesses tempos era um autêntico canal de esgoto a céu aberto, com todas as consequências para a salubridade da vila de Arouca.
Mas na maior parte dos casos, os dejetos das habitações eram conduzidos para os terrenos agrícolas que circundavam a vila, para estrumarem os mesmos. Mas haviam muitas habitações que tinham no seu rés-do-chão currais para guardarem os seus animais (como sejam porcos ou as vacas, além de outros animais de menor porte, como coelhos e galinhas). Nesses casos os dejetos iam para os mesmos currais. Mais tarde o estrume era removido, na época das lavouras, para adubar os campos.
Não é por acaso que, e muito bem, o Governo do Estado Novo, na década de quarenta, procurou minimizar o problema, promovendo o encanamento do dito rio, dentro da zona urbana da vila de Arouca (com as obras a terem início a 27 de Novembro de 1945; e acabando a 30 de Junho de 1949, numa extensão de cerca de 600 metros, que importaram em 1.024 contos[2]), que também veio regularizar o mesmo, evitando que houvessem cheias, como em tempos idos, que provocavam muitos prejuízos às populações ribeirinhas.
Muito mudou na vila de Arouca, em pouco mais de meio século.
O regime democrático instituído a 25 de Abril de 1974, veio mudar muita coisa; e para melhor. É bom termos memória…
[1] Arquivo Nacional Torre do Tombo – Inventário da Extinção do Convento de Santa Maria de Arouca.
[2] SILVA, Filomeno – AROUCA D’ONTEM, Estudo Toponímico e Álbum Fotográfico.
A Fonte da Ribeira