Aldeias de Arouca

Testemunhos de uma vida em solidão

Segundo a operação Censos Sénior do ano de 2023, existem em Portugal mais de 44 mil idosos que vivem sozinhos e isolados. Sendo Arouca um concelho com diversas aldeias dispersas, o DD visitou alguns seniores, que ainda vivem nesses locais, para melhor perceber como vivem e lidam esta realidade diariamente.

Na aldeia do Merujal conhecemos Clarinda Tavares de 74 anos, que contou ao jornal que se sente sozinha, explicando que a maioria das dificuldades estão relacionadas com o facto de estarem isolados e não terem “transporte para Arouca”.  Costumam deslocar-se nos transportes escolares e quando não há, têm de “chamar um táxi”, que tem um custo de “16€ para baixo e para cima”. “Sozinha, a reforma não dá para tudo”, explicou, falando também das despesas com medicamentos, e outros custos de vida.

Clarinda revelou ainda que em termos de comunicação têm televisão, rádio e telefone fixo, adiantando que “o telemóvel não apanha rede”. Salientou que na aldeia vive “pouca gente e muitos idosos, todos acima dos 75 anos”, mas por vezes alguns juntam-se. São oito mulheres que ali residem e se juntam para “cantar, jogar às cartas e conviver”, “aos sábados e domingos”. Esse mesmo grupo de mulheres, recebe também às terças e quintas visitas de entidades como “a agrimar” e “o juvenil”. No âmbito destas atividades, as aldeãs cantam em algumas iniciativas, num grupo intitulado de “Os Cantares do Merujal”.

“Eu nasci aqui e morrerei aqui se Deus quiser”, finalizou Clarinda com um sorriso.

Também no Merujal conhecemos Ernesto Tavares, de 86 anos, que, em meio de gargalhadas, disse que a maior dificuldade “é a doença”, mostrando que o resto” não representa um problema tão grande.  Ernesto também se desloca ao centro na “camioneta” e, por vezes, ao centro de dia de Urrô que este frequenta atualmente três vezes por semana. Neste veículo vai também fazer compras, buscar medicamentos, etc.

O idoso tem acesso a televisão que diz ser “indispensável nos dias de hoje” para ter algo com que se “entreter”, revelando ainda que, para além disso, e das idas ao centro de dia, ocupa o seu tempo no exterior “a apanhar sol” e que, por vezes, recebe visitas dos primos que vivem lá perto.

“O mais novo que aqui nasceu foi há cerca de 30 anos e emigrou”

Paralelamente, na aldeia de Tebilhão, o nosso jornal teve oportunidade de falar com António Tavares, 77 anos, sobre as suas vivências neste lugar que conta atualmente com apenas 18 habitantes. António vive com a esposa e revelou que isso faz com que não se sinta sozinho, “vivemos os dois, fazemos as nossas coisas, a nossa vida de campo, e vivemos felizes assim”, explicou.

O habitante de Tebilhão, revelou que “uma das maiores dificuldades” são “os transportes”, para quem não tem carro. É “um pouco desagradável” aceder a pontos como o centro de Arouca, sobretudo “na questão de médicos”, confessou. “Aqui não há transporte em comum, quem não tiver carro próprio tem de alugar ou chamar os bombeiros, ou outra coisa”, explicou, acrescentando que têm carro e que ainda se sente “com força para conduzir”, o que facilita imenso a sua vida.

António esclareceu que a nível de comunicação têm a televisão que é o que mais utilizam, os telemóveis, apesar de não saberem “funcionar bem com eles”, e ainda o “telefone fixo”. Também recebem visitas, contou, relembrando a do um sobrinho e da sua família dias antes, onde conseguiram meter “a conversa em dia” e passar “um bom momento”.

Grande parte dos seus dias centram-se no tomar conta “das hortas e dos animais”, salientou, António dizendo que ainda têm animais, “duas vacas” e é o que mais os “entretém”, mas também colhem “lenha, na altura do verão”, para terem para se “aquecer no frio”. “Vivemos um pouco como antigamente, mas com condições já mais atuais”, finalizou.

Ana Margarida Alves

Lugar do Merujal

 

Clarinda Tavares

 

António Tavares

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