População de Tropeço alega que a freguesia está esquecida

Presidente da Junta garante que a localidade “não parou no tempo”

Ao longo dos últimos tempos várias são as demonstrações de descontentamento que a população de tropeço tem mostrado relativamente ao que alegam ser o estado de esquecimento a que a freguesia foi deixada, tanto pela Câmara Municipal como pela Junta de Freguesia. O DD entrou em contacto com vários habitantes, e também com o Presidente da Junta, José Teixeira, que salientou que o seu executivo tem realizado “bons melhoramentos”, promovido Projetos, e que Tropeço “não parou no tempo”.

Algumas das reivindicações pelas quais a população da freguesia tem lutado são; o facto de a considerarem “descriminada” ao nível das “políticas municipais”, estarem contra a decisão Municipal de reconverter a Escola do Bacelo para Habitação a Custos Controlados, exigirem a construção de um espaço condigno para a comunidade conviver e para as atividades da Associação (A.C.D.T), entre outras.

Carmo Ferreira, habitante, em sede de Assembleia Municipal, afirmou, relativamente ao tema da Escola do Bacelo, que a Escola de S. João está entregue à Associação de pais “e bem”, uma vez que é um local onde os meninos “convivem”. Todavia garante, com revolta, que os fregueses de Tropeço não têm um espaço que não seja reservado “só às crianças, mas também aos adultos”. “Não temos uma mesa uma cadeira onde nos sentar no espaço público. Pagamos impostos, somos munícipes e é um direito que nos assiste. Seria a primeira a defender a reconversão da Escola do Bacelo em habitação, assim não”, reconheceu. Recordou, igualmente, que faz parte da associação (A.D.C.T), e que a coletividade não tem onde “deixar os materiais”, considerando para o efeito a “Escola do Bacelo” como o “sítio ideal”.

“Não temos uma mesa ou uma cadeira onde nos sentar no espaço público”

Ao DD, Amélia Cruz, freguesa de Tropeço, referiu que a comunidade, e a Associação, necessitam de um espaço para colocar o “espólio do linho, cestaria, canastréis”, e, no seu entender, o melhor local seria na “Escola do Bacelo”. Acredita, no entanto, que se fosse atribuído outro espaço qualquer à Associação já ficaria “contente”, mas que estaria contra atribuir a finalidade de habitação a esse edifício, que devia ser um “espaço intergeracional”, e “da freguesia”. Paralelamente reitera a necessidade de existir um “jardim”, ou espaço, onde as “crianças possam brincar”, e as pessoas “possam caminhar”, sem ser pela berma da estrada. “Não temos uma caixa de multibanco em lado nenhum, e a rede de internet funciona pessimamente”, confessou. Também alega não terem “um centro cívico”, sendo que a estrutura que existe ao pé da junta, que tem um palco, possui entradas que “não são favoráveis”. Propôs, ainda, uma ecovia para as pessoas circularem. “A única coisa que temos que foi feita no tempo da junta anterior é um passeio largo, da igreja à junta, embora muito degradado, tem desníveis devido às árvores, e pessoas idosas e crianças tropeçam naquilo”, elucidou.

“Na escola do Bacelo estão 4 gerações com muitas memórias”, referiu, por sua, vez Generosa Cruz, também na AM, alertando para que, se o projeto para habitação for avante, “nunca será a mesma coisa”. “Doí-me pensar que aquilo vá desaparecer dali”, confessou. A habitante acredita que esse local seria excelente para albergar os espólios de cestaria, linho, pois têm “muita população jovem”, e querem “preservar” o que lhes pertence.

O representante do PSD, na Assembleia de Freguesia de Tropeço, Pedro Pinho, também esteve à conversa com o DD, começando por referir que ao nível de pavimentações, na freguesia, o trabalho foi-se fazendo, mas no que diz respeito a um parque infantil, esse continua por concretizar. Acrescentou que também lhes foi retirada a “escola”, ao que perguntamos se “não haviam alunos suficientes”, acabando o habitante por referir que sim tinham “alunos”. “Não digo que eram 50 ou 60 alunos, mas dava para ter pelo menos uma escola primária, e toda a agente sabe que uma escola numa freguesia traz vivacidade”. O “Parque de Lazer” não foi concretizado, assim como a “ampliação do cemitério”, a “repavimentação da estrada Municipal de São João à Ribeira”, (que “depende de uma rotunda que está há 10 anos para ser feita e depende de uma ETAR”, que também não foi concretizada), e a “recuperação do Jardim de Infância” e do “Edifício Sede da Junta”. Além disso, o morador acrescenta que não foram reunidos esforços para “alargar as redes de saneamento básico”, já que o lugar da Ribeira não possui este serviço, nem água da rede pública. Apesar de todas as limitações que enunciou, e que alegadamente existem na freguesia, Pedro Pinho refere que as pessoas têm ficado por lá, e que tem “visto poucas pessoas a ir embora”. Notou ainda a falta de caixotes do lixo na extensão da Ecovia do Arda, referindo que só existem em zonas pontuais onde as pessoas atravessam a via. Alertou igualmente para a falta de sinais STOP nas estradas secundárias, que “vêm dar” à estrada principal, que vai desde a Casinha à Ribeira, situação que já provocou acidentes e, possivelmente, provocará “no futuro”. “Nos últimos três anos não se fizeram obras na freguesia e, este ano, vão-se fazer algumas, sendo que o município aumentou o valor do orçamento para o ano de 2025, ou seja a senhora presidente só se lembra da freguesia de Tropeço em ano de eleições”, substanciou.

“Na Ribeira não há uma casa que tenha saneamento”

Nelson Pinho, habitante e proprietário de um negócio no Lugar da Ribeira, adiantou que as limpezas das valetas, nessa zona da freguesia, são realizadas a cada quatro anos, e que faltam espaços onde a comunidade possa interagir e estar. “As outras freguesias estão sempre mais avançadas que nós, por exemplo, na Ribeira não há uma casa que tenha saneamento”. Queixou-se, de seguida, do mau cheiro emitido pela ETAR, uma vez que mora a uns escassos 120 metros daí, e de não haver casas de banho públicas. “Também não tem WC na Ecovia, muitas vezes vão lá crianças de associações, e não têm onde ir fazer as necessidades”, desvendou.

Na redação do DD, e em resposta ao enunciado pelos seus fregueses, José Teixeira, Presidente da Junta, começou por referir que, no que diz respeito às vias, têm feito “bons melhoramentos”. “Ainda há pouco acabamos a ligação de Ferreiros a Fim de Vila, e outros caminhos foram alargados”. O autarca acrescentou igualmente que a “freguesia não parou no tempo”, e que está em muitos projetos como “as Oficinas Digitais”, “Botar Cantas”, entre outros. “Temos a rede de saneamento feita para cobrir 70% da freguesia”, sendo que o lugar da Ribeira “ainda não será contemplado”.

No que concerne a espaços para a comunidade, destacou o recém-qualificado “Adro da Capela da Santa Bárbara”, (posse da Igreja) que a Junta recuperou. “Já têm sido feitas lá festas particulares, públicas, ainda há pouco tempo houve cinema ao ar livre”, referiu, não esquecendo o “apoio social” que a Junta tem disponibilizado “a várias famílias necessitadas, a nível económico e de saúde”.

Acerca do tema da Escola do Bacelo, e da sua conversão para Habitação a custos controlados, o dirigente não negou que a ideia de se fazer um Museu nesse local foi do seu executivo, todavia denotou que a Câmara tinha outras finalidades para o edifício, mais precisamente convertê-lo em habitação, sendo que a Junta não tinha hipótese de “fugir a isso”. Além disso, José Teixeira afirma que “o espólio e símbolos”, que os habitantes de Tropeço dizem possuir para equipar o Museu “ninguém sabe onde está, ou quem tem”. Momentos depois apontou algo que diz ser mais importante que o linho e a cestaria, que é “a parte da Oliveira e da azeitona, que dão o nome à freguesia, e estão na bandeira”.

Fotos: Ana Margarida Alves e Simão Duarte e AM

REPORTAGEM COMPLETA NA NOSSA EDIÇÃO IMPRESSA (609) JÁ NAS BANCAS ;

José Teixeira, Presidente da Junta de Tropeço

 

Afonso Portugal, deputado do PS, natural de Tropeço

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