Na noite do passado sábado (23 de novembro), a Biblioteca D.Domingos de Pinho Brandão acolheu a apresentação da mais recente obra da arouquense Cátia Cardoso. Com chancela da editora Cordel D’Prata, “matar os dinossauros” é a quarta obra da autora natural de Canelas, a terceira no registo poético. Recorde-se que esta obra fora lançada em agosto e a propósito da obra, desde então até ao presente, a autora participou em podcasts e entrevistas, bem como na Feira do Livro do Porto.
Perante uma sala praticamente cheia, o arranque da apresentação ficou a cargo da vice-presidente Cláudia Oliveira, que começou por elogiar a autora e a sua obra, devido à “inquietude e irreverência, na escrita e na cidadania, na participação cívica e no associativismo também”. Quanto à “dádiva cultural” da autora, e olhando para esta publicação mais recente onde considera que “a Cátia vai mostrando toda a sua arte e eloquência no jogo com as palavras, com a pontuação conjugada com as palavras”, Cláudia Oliveira efetivou uma observação curiosa, com fina ironia à mistura. “Não deixa de ser curioso que alguém que é natural duma freguesia com trilobites, ouse matar dinossauros”, rematou.
A apresentação propriamente dita ficou a cargo de Fernanda Mendes, conterrânea da autora e com um vasto currículo em áreas como a Psiquiatria, que começou por revelar a surpresa que sentiu quando recebeu o convite. Do seu discurso, destacou-se a perspetiva do significado dos dinossauros do livro. “Dinossauros, no contexto do livro, são metáforas, mas também imagens dos nossos fantasmas. Isto é, as nossas inquietações, tais como as incertezas, apreensões, insatisfações, desassossego, medo, entre tantas outras reações emocionais e sentimentos negativos que possamos sentir (…) Dinossauros que são feridas e ou cicatrizes, resultantes de escolhas erradas (…) Dinossauros que são memórias, mais ou menos presentes e intensas, mais ou menos traumáticas (…). São metáforas e imagens de situações diversas do mundo real e fantasmagórico que povoa a psique com os respetivos envolvimentos emocionais a exigirem resolução das questões que a desencadearam”, referiu.
As palavras da autora
Por último, mas não menos importante, foi a vez da Cátia Cardoso falar. Após agradecer a presença das pessoas, referiu de seguida de onde surgiu a ideia para a obra. “A ideia para o livro surgiu numa oficina que fiz sobre poesia e psiquiatria, uma formação de quatro dias, em julho do ano passado (2023), em Coimbra. Era uma formação sobre psiquiatria e direitos humanos que tinha duas oficinas de poesia e psiquiatria. Nunca tinha feito formação nem workshops na área da poesia, escrevia por impulso, por inspiração, porque gostava. Há já algum tempo que estava a sentir essa falta. Quando lancei o livro anterior (“Antes que o amanhã se vista de fogo”) referi precisamente isso, que a minha poesia ainda não estava onde eu queria que ela estivesse. Nessa oficina, absorvi novas ferramentas, algumas estratégias para desbloquear a escrita de poemas. Fez com que eu sentisse que a partir dali já poderia escrever poesia de uma forma diferente e estar numa etapa seguinte.”, apontou a autora.
Questionada posteriormente pelo nosso jornal acerca das expetativas quanto à apresentação da obra e do número de vendas desta, Cátia declarou que não é seu costume “criar expectativas, principalmente no que diz respeito a números, pois como se compreenderá interessam-me mais as palavras. Desse ponto de vista, gosto sempre que as pessoas participem também na apresentação do livro e isso é muito enriquecedor. Como se viu, houve quem quisesse fazer perguntas, partilhar poemas e deixar as suas reflexões e/ou sugestões. São as palavras e o contacto com as pessoas aquilo que retiro da noite de sábado. Quanto aos números, penso que foram bastante simpáticos, enchendo a sala e praticamente todos os exemplares ali disponíveis foram adquiridos”.
Texto: Simão Duarte
Fotos: Carlos Pinho