É já a partir desta quinta-feira que Arouca volta a viver a sua grande festa: a 74ª edição da Feira das Colheitas, considerada desde o início «a festa das multidões».
A sua fundação remonta a 1944, em tempos de guerra na Europa e imensas dificuldades para adquirir bens de primeira necessidade, incluindo cereais, base da alimentação tradicional num concelho basicamente rural.
Era preciso encontrar uma solução e a Feira das Colheitas foi uma aposta pioneira, original, que alcançou de imediato um êxito difícil de imaginar.
E em 1946 já se encontrava bem consolidada. A 30 de Setembro desse mesmo ano, exactamente ao outro dia da festa, reunia a direcção do Grémio da Lavoura, presidida por António de Almeida Brandão, o ideólogo da Feira das Colheitas, para se congratular com «a grandiosa Feira das Colheitas, tendo decorrido com grande animação e entusiasmo. A Sessão Solene para a entrega de prémios nos Paços do Concelho, por sua vez, revestiu-se de grande brilho».
O resto da história torna-se fastioso repeti-la, embora seja preciso ter sempre bem presente as autênticas maravilhas que foram surgindo ano após ano. As grandes exposições, o folclore, a imensidão de gente de todas as condições sociais que deram o seu melhor, o seu saber, o seu trabalho. É preciso que depois do esplendor não venha o abandono, que já se nota em vários sectores e era ainda possível evitar.
De qualquer modo, a Feira das Colheitas volta a sair à rua já na quinta-feira da próxima semana. Em alguns aspectos mantém-se fiel às suas raízes e nada impede que, passados tantos anos, sem nunca esquecer o passado não seja possível inovar. Mas os principais «cabeças de cartaz», esses, estão cá. Pelas mesmas razões que as mordomas, o ouro e o esplendor do vestuário fazem a diferença em Viana, considerada a maior festa de Portugal.
E quem não pensar assim, salvo melhor opinião, está enganado.
No vasto programa, que está a ser divulgado, o Domingo volta a ser o dia dedicado ao folclore e, porventura, o mais emblemático. Porque faz renascer uma cultura muito rica, mas esquecida ou amordaçada.
De resto, e nunca é demais repeti-lo, esta Feira das Colheitas já enferma, inclusive ao nível dos concursos e exposições, de bastantes fragilidades. É preciso reconhecê-lo sem que isto signifique injustiçar quantos a têm realizado durante tantos anos. Que não é tarefa fácil.
E quando a raça arouquesa desfilar de novo na avenida ou os ranchos rodopiarem na praça, é bom recordar figuras veneráveis como Albano Ferreira ou o velho Joaquim Campas do Merujal, tendo como pano de fundo a ternura dum belo par de namorados:
«Para ver como te enfeitas
e o teu belo pisar
fui à Feira das Colheitas
onde tu foste dançar»
Uma quadra vencedora dum dos concursos dos muitos que se faziam no passado. Resta-nos de novo viver a Feira das Colheitas como há 74 anos.