A sofrer de algumas maleitas, graves e já bem identificadas, a Feira das Colheitas mesmo assim continua jovem e a mostrar que ainda é o evento que traz mais gente a Arouca num único fim-de-semana.
Com o bom tempo a ajudar, fruto deste verão prolongado, o que quase nunca acontecia no passado, a grande romaria teve o seu ponto alto no sábado à noite e no domingo de tarde com uma autêntica multidão, incluindo muitos jovens, direccionada, sobretudo, para os produtos da terra com a gastronomia regional em grande destaque. Pode-se dizer, sem margem para errar, como já se afirmou no último jornal, que os grandes «cabeças de cartaz», como sempre, estão cá. Resta saber aproveitá-los. O que não está a acontecer, por exemplo, com a exposição de produtos agrícolas, incluindo frutas, nitidamente depauperada. O mesmo acontece com o artesanato. Resta uma imagem muito pobre das grandes exposições de anos atrás. Algumas que fizeram história pela sua riqueza e originalidade. A este nível e não só, porque os tempos são outros e é preciso inovar, Arouca está ali muito mal representada.
São precisas novas iniciativas e trabalho. Ao longo do ano.
A feira e a festa
De qualquer modo, a grande feira andou por aí a reinar. Não faltava que comprar. Muitas coisas da terra, algumas bem emblemáticas, outras importadas. Mas o primeiro momento alto, a fazer jus ao que de melhor aconteceu muitos anos atrás, foi logo no primeiro dia, quinta-feira, o Concurso Nacional da Raça Arouquesa, da responsabilidade da Cooperativa Agrícola de Arouca. Ali, junto a S. Pedro, podiam-se ver muitos e belos exemplares, na esmagadora maioria vindos de concelhos vizinhos já que por estes lados (mas este é um tema a ser tratado noutra ocasião e outro lugar) os incentivos são raros e a preservação da raça se resume a pouco, muito pouco, ou a uns ténues fogachos. Ainda uma referência para o novo local do concurso que, com alguns melhoramentos, nos parece dos mais adequados.
Seguiu-se o desfile na Avenida, na parte da tarde, e este foi, sem dúvida alguma, um dos momentos em que a Feira das Colheitas se mostrou no seu velho esplendor e plena de virtualidades.
No primeiro dia à noite houve ainda, o chamado Concerto da Comunidade, com a presença de grupos do cancioneiro tradicional. Uma iniciativa bem integrada no espírito da feira até pela sua originalidade.
O almoço convívio dos sócios da Cooperativa Agrícola continuou a marcar a sexta-feira, seguindo-se a entrega de prémios. À noite houve baile e na Praça actuou Miguel Araújo.
No sábado registou-se a primeira grande enchente vinda de muitas léguas em redor com o trânsito amontoado, policiamento insuficiente e falta de locais para estacionar. Na Praça actuaram, à tarde, as bandas de Arouca e Figueiredo. Quanto às chegas de bois e carneiros não têm qualquer tradição em Arouca e não fazem qualquer falta ao certame. Bem pelo contrário… Não acrescentam nada. Muito menos nos tempos que estamos a atravessar. À noite a Banda de Arouca teve a companhia da de Alvarenga e no Parque Milénio, para gente com outros gostos actuaram, os DAMA.
O domingo voltou a ser o dia de outras grandes referências da Feira das Colheitas: Desfile Etnográfico, Cortejo dos Açafates, que no passado serviu para apoiar o hospital, folclore à tarde e à noite na Praça. Uma dezena de ranchos do concelho fizeram recordar a Feira desde há 74 anos em toda a sua originalidade.
A fechar os dois principais dias de festa o tradicional fogo-de-artifício, com a particularidade de no domingo ser lançado em três lados o que o tornou ainda mais espectacular. Quanto ao fogo preso, obrigatório no passado, continua a ser apenas uma saudade.
E agora até ao ano. Com a certeza da Feira das Colheitas ser ainda a “festa das multidões” e merecedora dum carinho muito especial. Das gentes de Arouca e de todos os que se deslocam obrigatoriamente a Arouca no último fim-de-semana de Setembro desde há muitos anos.
Porque vale a pena e há sempre algo que é preciso recordar. Até para matar saudades.
Sugestões e reparos
A exposição bem conseguida no celeiro do Mosteiro sobre o azeite recorda-nos um património ameaçado. Porque não adquirir, como já foi hipótese no passado, um dos velhos lagares abandonados para Museu Etnográfico?
Os concursos foram as traves mestres dum novo desenvolvimento e incentivos aos grandes produtores. Seria boa ideia divulgar atempadamente o seu valor. Afinal, quanto se gasta ou gastou? Enfim, apostar a sério nesta área, mesmo que se abra mão dum «artista consagrado».
Quanto a reparos são muitos, embora a Feira das Colheitas seja sempre o êxito que desde a primeira hora existe no seu âmago. Policiamento insuficiente: não basta incluir uma empresa privada, falta de estacionamento, exposições a que já fizemos referência em declínio ou depauperadas. Já agora, faz pouco sentido aquela tenda a entupir a rua Abel Botelho. Além disso, em caso de urgência, até se pode tornar perigosa.
De resto, é tempo de começar a trabalhar. Está aí à porta o novo ano…
O balanço de Margarida Belém, presidente da Câmara Municipal
“O balanço da mais recente edição da Feira das Colheitas é francamente positivo. Celebrámos com orgulho e alegria as nossas tradições e a nossa identidade, dando-as a conhecer às largas centenas de visitantes que por estes dias acorreram ao nosso município. Mas esta foi também uma festa feita pelas nossas gentes e para as nossas gentes, pelo que foi com orgulho que vi arouquenses de gerações várias a manter vivo este evento que celebra a nossa matriz rural. Estamos agora já a pensar na edição de 2019 em que iremos celebrar, em grande, os 75 anos deste que é o nosso maior e mais relevante evento concelhio.”
Almoço da Cooperativa foi um dos mais participados de sempre
Realizado na sexta-feira, dia 28 de setembro, pelas 12h30, no Hotel S. Pedro, o almoço-convívio entre os sócios da Cooperativa Agrícola de Arouca foi um dos maiores de sempre.
“Nesta festa celebramos a colheita dos frutos, e o trabalho conjunto, em que a união de todos os presentes e as entidades que representam é uma mais valia para a Cooperativa Agrícola de Arouca, para o concelho e, fundamentalmente, para os nossos agricultores nos tempos difíceis que o setor está a atravessar. Mas juntos seremos mais fortes. Sendo a Cooperativa Agrícola de Arouca maior associação do concelho, gostaríamos de continuar e se possível aumentar as parcerias”, afirmou Joaquim Reis, presidente da Cooperativa Agrícola de Arouca, na hora dos discursos.
Margarida Belém também marcou presença e referiu que não há “nada melhor do que abrirmos a Feira das Colheitas comemorando com aqueles que deram início à Feira das Colheitas. Estamos a comemorar os 74 anos daquela que é sem dúvida nenhuma a nossa grande festa, a nossa identidade, com muito orgulho da nossa ruralidade e isso só seria possível porque os agricultores são peças fundamentais no desenvolvimento agrícola do nosso território”.
Neste almoço foram ainda entregues os prémios dos diversos concursos organizados pela Cooperativa.