ADC Tropeço e Amigos de Tropeço recriaram uma Desfolhada “à Antigamente”

Tal como tem vindo a ocorrer ao longo deste ano o Grupo de Amigos de Tropeço, juntamente com a ADC Tropeço realizaram mais uma atividade que visou o convívio e participação dos sócios e comunidade em geral, mais precisamente uma Desfolhada “à Antigamente”.

A iniciativa realizada, com o intuito de manter vivas as tradições, teve uma excelente afluência de participantes, que foram, na sua maioria, vestidos “a rigor” com os trajes de outrora.

Primórdios e objetivos

A Associação Desportiva e Cultural de Tropeço foi fundada em 1980 e teve o seu auge nos anos seguintes à sua fundação, muito devido, tal como afirmou o Presidente Valter Cruz, “à envolvência da comunidade da freguesia”.

Todavia “os tempos áureos”, altura em que ocorriam espetáculos de teatro, dança, desporto e as marchas populares, primeiramente organizadas de forma isolada e depois inseridas no programa das Festas de S. João, (“foram sem dúvida a atividade que mais tempo e mais pessoas da comunidade envolveu”), terminaram, começando os tempos mais difíceis para a entidade associativa “estando praticamente inativa e em “autogestão”. O dirigente salientou que este difícil período coincidiu com a altura em que o associativismo esteve em decadência, sendo que “quase ninguém se queria associar ou assumir a direção”.

No entanto, de há uns anos a esta parte a ADC Tropeço foi-se reativando aos poucos, “mas sem nunca conseguir criar uma “marca” no associativismo municipal. Após o esforço da última direção, da qual VC fez parte, que acabou por ficar sobrecarregada, e de depois ficar “praticamente inativa” durante 2 anos, uma nova direção iniciou funções, há praticamente 1 ano, e na opinião do responsável foi a escolha mais acertada. “Escolhemos pessoas jovens, com vontade de fazer coisas diferentes e pessoas mais maduras que trazem experiência e ajudam a “arrefecer” as ideias que os mais novos, normalmente fruto da idade, têm. De referir que uma grande parte das pessoas que compõem a ADC Tropeço fazem parte do Grupo dos Amigos de Tropeço. “Este grupo tem tido um papel fundamental e de total parceria com a ADC Tropeço para que o associativismo na freguesia se torne novamente visível a nível municipal, e que desempenhe um papel fundamental na envolvência da comunidade”, acrescentou.

Por sua vez a António Pereira, Custódio Rocha e a Dona Carmita, naturais de Tropeço, e em representação do grupo de Amigos de Tropeço, também explicaram ao nosso jornal como este surgiu. O mesmo foi fundado há mais de oito anos, tendo iniciado devido à amizade que os unia a todos: “começamos a juntar-nos e resolvemos fazer algo para a comunidade. Também coincidiu um bocadinho com aquela fase em que a associação esteve completamente parada, há muitos anos, e nós como gostávamos de “brincadeira” começamos a organizar bailes mensais, teatros, festas de Natal, Cantar dos Reis (no nosso anfiteatro).” Posteriormente decidiram organizar o magusto e convívio aberto a toda a comunidade, tudo antes da pandemia, “sempre com grande afluência”, sendo que os últimos convívios antes da Covid tiveram aproximadamente 200 pessoas, tal como referiram.

Este ano já voltaram a organizar um convívio e agora a desfolhada em colaboração com a ADC Tropeço. Do Grupo de Amigos de Tropeço fazem parte aproximadamente 30 pessoas, e apesar de terem confidenciado que pretendem “ir com calma”, pensam já de seguida realizar um magusto de S. Martinho, “para desanuviar da semana de trabalho” (risos).

Uma Desfolhada a retratar o “Antigamente”

Esta foi a primeira vez que realizaram este evento sendo que tentaram ser o mais fiéis possível ao que se fazia nos tempos dos seus avós “desde os cantares, a comida, a bebida, os acessórios utilizados”. A finalidade da iniciativa foi basicamente dar continuidade às tradições da aldeia sendo que no futuro pensam repeti-lo, tal como salientou VC, e apesar de não ter sido totalmente “tradicional”, foi o que consideraram mais adequado para não “limitar a envolvência da comunidade neste primeiro evento”. “Tal como as vestes, acreditamos que nas próximas edições conseguiremos replicar de forma ainda mais real ao nível de espaço e traje esta tradição da nossa aldeia.”

 A participação da comunidade nas atividades também tem uma enorme importância para estas entidades, sendo que o Grupo de Amigos de Tropeço, por ser constituído por elementos com mais idade é crucial na organização de eventos que reativem tradições, que se tornam um chamariz. Para Valter Cruz o envolvimento da comunidade neste tipo de eventos é “tão ou mais fundamental” que a organização, pois ajudam em toda a logística desde a organização, ou até ao participarem no próprio evento “como sendo seu”.

Apesar da prática de desfolhar ser cada vez mais residual, ainda existem pessoas na Freguesia de Tropeço que mantêm esta tradição anual. VC reiterou a importância de reviver estas tradições, “mesmo que por breves instantes”, pois “fazem-nos reviver pessoas, alegrias, conversas, tristezas, recordações, momentos, as nossas origens, etc”. A participação de todos para um “bem comum” sem interesses pessoais acima dos interesses do grupo, “bem como a participação das pessoas como um simples ato de cidadania, ou social, ou de entreajuda, ou de espírito de equipa, reforçam a importância destas atividades como essenciais para o prolongar das tradições no tempo e principalmente para criar laços positivos entre a comunidade em torno de um objetivo comum”.

De referir que, no local, o DD teve a oportunidade também de falar com Maria do Céu da Silva Brandão, antiga professora primária, com 95 anos, que lecionou em Regoufe na altura da exploração mineira, e que fez questão de também estar presente nesta desfolhada.

Carências

No que ao associativismo diz respeito Valter Cruz aponta como a maior limitação da ADC Tropeço, e da própria freguesia, a falta de um parque desportivo e de lazer, que tenha as condições mínimas para a prática desportiva, sendo que existe um espaço, mas o valor necessário para a sua requalificação é “incomportável para o fundo económico” da ADC Tropeço. Mais acrescentou que não existe “um único espaço dedicado às crianças-parque infantil”, além de que precisam de sede própria, (problema que contam resolver em 2023).

O responsável agradeceu à Junta de Freguesia o espaço que lhes disponibiliza na sede da Junta de Freguesia, apesar de revelar que este é insuficiente e limitativo perante o “crescimento da ADC Tropeço”. Para o efeito acredita que é essencial existir voluntariado e envolvência da comunidade, “de meios estruturais, de infraestruturas e algum financiamento”.

“A nível associativo, a meu ver o município poderia delegar mais responsabilidade nas associações, bem como incluir as mesmas na organização e na tomada de decisão da maioria dos eventos municipais. Desta forma valorizavam as associações e a envolvência das mesmas, responsabilizando-as também pela coorganização dessas atividades. Fortalecia-se o associativismo, o município mantinha a função de coordenar e monitorizar, e reforçava-se o sentimento de cidadania e comunidade. Importante seria, como mencionado anteriormente que “o município em detrimento de transmitir uma sensação de se “substituir” às associações, as envolvesse e convidasse para a organização ou coorganização, mantendo sempre aquelas que a meu ver devem ser as suas principais funções: delegar e monitorizar o que é passível, sem comprometer a função de órgão de decisão. A palavra cooperação deveria ser sempre a palavra a ter em conta”, acrescentou.

Objetivos

O projeto de consolidação da sede para a ADC Tropeço aparentou ser o primeiro passo a dar num futuro próximo, para aí realizarem e promoverem “o maior número de eventos nesse espaço, para potenciar alguma sustentabilidade financeira”. Todavia melhorar o atual  “campo da bola”, aumentar o número de parcerias possíveis com outras associações, para aumentar o número de atividades ou eventos em que participam,“aumentar a envolvência da comunidade de Tropeço com a Associação Desportiva e Cultural de Tropeço” e iniciar o projeto que intitularam de “Pessoas, Histórias, Lendas e Tradições de Tropeço”, “que tem como principal objetivo recolher e garantir que todos estes tesouros ficam guardados e registados da melhor forma possível para a vivência das futuras gerações” acabaram por ser também objetivos que a entidade pretende concretizar já num futuro próximo.

Texto: Ana Castro

Fotos: Carlos Pinho

Desfolhada
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