O mês de agosto é o mês de regresso de muitos emigrantes ao seu país, o DD falou com 3 arouquenses que exerceram diferentes profissões, em países distintos, para perceber os motivos, os prós e os contras da emigração e o que mudou ao longo dos anos.
João Gonçalves, 34 anos, emigrou para a Suíça em 2015, contou ao DD que tomou a decisão “de um momento para o outro”, relacionada com o facto de ter os pais lá, “ter terminado o estágio em farmácia e não ter conseguido uma vaga de imediato para ficar no mercado de trabalho, juntado a isso também uns problemas pessoais”. Acrescentou também que foi “numa perspetiva de mudar de vida”, pois naquele momento estava a depender dos pais.
O jovem falou do entrave linguístico e das dificuldades na sua integração, “foi bastante complicado o alemão, a qualquer lado que eu me dirigia, não conseguia comunicar com ninguém”. Revelou ainda que passou uma fase que acreditou que “não seria possível aprender o alemão por ser tão difícil”, e explicou que “também se tornou difícil encontrar trabalho”, e que chegou a ter “propostas de trabalho que não foram possíveis”, devido a não dominar o alemão.
Ainda sobre as dificuldades com que se deparou o emigrante partilhou uma história sobre o seu primeiro trabalho, “tive uma experiência má” contou, “durante três meses não me pagaram”, acrescentou, confessando que ponderou “nunca mais voltar para a Suíça”. Depois lutou para aprender a língua, acabando até por fazer “uma formação de alemão”, e, com o passar do tempo, as coisas encaminharam-se. Esta fase de adaptação levou-lhe cerca de um ano, “foi um ano complicado”.
João não tem planos de regresso, “não tenciono voltar a Portugal nos próximos 4 anos”. Contou que a sua situação mudou, inicialmente “estava sozinho” visto que os pais regressaram a Portugal, mas, recentemente, a namorada emigrou com ele, o que faz com que tenham intenções de ficar.
Uma das vantagens de estar na Suíça, que referiu, está relacionada com as facilidades a nível monetário. “Se estivesse a viver em Portugal e ganhar um ordenado mínimo “nunca na vida conseguia fazer 4 viagens por ano”, e ter “algum tipo de extravagâncias e luxos”.
“São noites sem dormir, muitas lágrimas e muita dor”
Agostinho Ferreira, 53 anos, emigrou para França em 2005, e explicou as necessidades que o levaram a tomar esta decisão. “Foi para melhorar a qualidade de vida”, contando que a oportunidade surgiu devido a uma pessoa conhecida, também emigrada, que lhe disse que estavam a meter pessoal. Pouco tempo depois partiu.
Agostinho levou cerca de 3 meses “muito complicados” para se começar a adaptar, contou que foi “difícil, devido à língua não ser a nossa”, que teve dificuldades “para ir a um café, ou um supermercado principalmente”, mais tarde aprendeu um pouco da língua para “o essencial”. O ex-emigrante adiantou também que “foi muito complicado, além de estar fora do nosso país, longe da família, de tudo e de todos que amamos muito”, e estar sozinho.
O arouquense expôs que nunca se sentiu em casa lá, “estava sempre naquela expectativa, a contar os dias para chegar a agosto e regressar, embora falasse com a família todos os dias, nunca é a mesa coisa”. Acrescentou que no seu ponto de vista “o dinheiro não é tudo”, e “o sacrifício de estar longe da família, não compensa”.
Regressou a Portugal “quase há dois anos”, veio para a comunhão da sua “pequena”, e, apesar de em França quererem que ele continuasse, não quis renovar. “Eu não participei na infância dos meus pequenos, não acompanhei a evolução, o crescimento dos meus filhos e chegou a um ponto que eu disse basta, foi esse o motivo”, afirmou.
Voltando um pouco atrás, explicou que o objetivo para ir para o estrangeiro foi estar “focado em ganhar dinheiro”, e que não podia andar “nos cafés”. Em Portugal é diferente, pode “sair com a família dar um passeio, conversar com um amigo, é totalmente diferente”.
“Foi mais uma aventura do que outra coisa.”
João Resende, 36 anos, emigrou para a Suíça, (zona de Berna), em 2014, ao DD recordou a forma como surgiu esta experiência, “foi mesmo a ideia de experimentar”. “O espírito foi esse, vou experimentar como é que é, se der, deu, se não der, não deu”, contou. Referiu que falou com “um amigo que estava lá na altura” e, cerca de um ano após essa conversa, o amigo contactou-o dizendo que se ainda estivesse interessado tinha 10 dias para estar na Suíça. Desse modo aceitou e começou logo a tratar de tudo. Foi com a mulher, Margarida, de carro, para ter facilidade em voltar caso algo corresse mal. Salientou as dificuldades na adaptação, “principalmente por causa da língua”, mencionando que o facto de ir com a esposa facilitou a adaptação, “nós fomos os dois como casal e a adaptação foi mais fácil”.
Devido à necessidade foram-se esforçando para aprender algumas palavras em alemão e um pouco da língua. Para começarem a “entender as primeiras coisas, foi cerca 2, 3 meses”, mais tarde, acabou por fazer um curso de alemão.
Descreveu também que a nível de trabalho a primeira dificuldade foi a “física”, associada ao trabalho de campo, mas talvez a mais complexa tenha sido a nível de ambiente de trabalho. “As piores pessoas que eu lá encontrei foram portugueses”, recordou, contando a história de um casal que lhes dificultou a vida a nível profissional. “Foi muito difícil, não pelo trabalho em si, mas pelos colegas”. No meio desses contratempos relembra também os bons amigos que fez, referindo dois casais que conheceram no trabalho, e com quem se relacionam até hoje.
João recordou as boas memórias que guarda do país, “paisagens, vivências, amigos que fiz lá, foi muito bom”. Paralelamente também aproveitou para viajar e conhecer chegando a ir à Itália, a Alemanha e França.
“Sempre tivemos a ideia de vir para voltar para Portugal, nunca ponderámos sequer ficar lá, fazer de lá a nossa vida. A ideia era ficar o menor tempo possível, ficámos seis anos”, relatou. Consequentemente voltaram devido a um problema familiar, “o meu sogro ficou com cancro, então decidimos vir embora, o dinheiro não é tudo na vida”, finalizou referindo que até hoje não se arrependem.