“Um sucesso a todos os níveis. Foi uma organização exemplar e estamos a ter um alcance internacional tremendo”
Após mais uma edição do Festival Internacional Arouca Film Festival, o DD entrevistou o seu diretor, João Rita, numa conversa onde, entre outros temas, foi abordada a história do evento, obstáculos, apoios que recebem, balanço da edição deste ano, e novidades para o futuro.
DD: De onde partiu a ideia de se realizar um Festival de Cinema Internacional, com o nome Arouca associado?
JR: A ideia partiu de um grupo de estudantes de cinema sediado na cidade do Porto e da vontade de dotar a Arouca de outros tempos, (2003) de um evento cultural único e que pudesse distinguir Arouca no exterior.
O festival teve a sua primeira edição em 28 de fevereiro de 2003.
DD: São já 22 edições do tão conhecido Arouca Film Festival. Qual o segredo para manter “de pé” um evento como estes, ao longo destes anos?
JR: O gostar de cinema e cultura é fundamental, mas o querer e sentir que todos merecem ter experiências de qualidade, mesmo fora dos grandes centros, é algo que nos leva a acreditar neste grande sucesso internacional.
DD: De ano para ano quais são os maiores obstáculos associados à concretização deste evento?
JR: Fundamentalmente os apoios e a forma como a autarquia local tem avaliado a qualidade, a importância e o alcance deste evento internacional. O festival de cinema leva não só o nome de Arouca, mas de Portugal pelo mundo fora, e pelas melhores razões.
DD: Acredita que o povo de Arouca está sensibilizado para o universo do Cinema? Como tem sido a afluência da comunidade nas edições anteriores? Tem aumentado? E relativamente à edição deste ano?
JR: Sim, as pessoas de Arouca estão mais que preparadas para apreciar, desfrutar e avaliar este evento. As pessoas de Arouca são cultas e muito interessadas, neste caso por cinema, cultura e todas estas experiências que sempre que nos é “permitido” realizar, nós fazemos no concelho.
“As pessoas de Arouca são cultas e muito interessadas por cinema”
DD: Qual o ponto “mais alto” de todas as edições que já organizou?
JR: A cada ano que passa o festival cresce em número de espetadores e qualitativo. No segundo ano de edição, decidimos que queríamos uma visão não somente local, mas internacional e apostamos no nome Arouca Film Festival, isto foi em 2004, no tempo em que a tecnologia e o acesso à mesma era muito, muito diferente. Mas nos últimos anos, principalmente com a renovação da direção do festival e com a entrada da Vice-Diretora Maria Castillo, que é natural de Maiorca, a nível internacional tudo mudou! Decidimos apostar em convidados internacionais e numa equipa de júris que nos honra e solidifica a nossa imagem de credibilidade no mundo cultural do cinema. Muito deste trabalho deve-se efetivamente à Maria Castillo.
DD: Que apoios, e por parte de que entidades, receberam para realizar o Festival?
JR: Os apoios para o alcance e grande sucesso deste evento são muito poucos. A autarquia local atribuiu-nos o apoio destinado ao associativismo local, ronda os 1.500 a 2.000 euros, (a autarquia pode sempre, e tem toda a legitimidade para referir que o concelho usufrui de um festival de cinema internacional de qualidade, investindo um valor insignificante). Esta é a nossa realidade. Depois tentamos alguns parceiros internacionais que tem uma visão qualitativa e também ela internacional, o que nos ajuda imenso a solidificarmos a nossa mensagem de rigor e competência no circuito de festivais internacionais de cinema. São efetivamente os parceiros internacionais que nos garantem o potencial extra para continuar a acreditar e a realizar.
DD: Podem contar com a ajuda de quantos colaboradores e voluntários?
JR: Sim, temos uma secção aberta a voluntários, normalmente no conjunto de todos entre Arouca, S. João da Madeira, Porto e internacionalmente. Posso dizer que a equipa é composta por cerca de 12 elementos.
DD: Qual o género cinematográfico que está mais presente nas películas que exibem, ou o género vai mudando de ano para ano?
JR: Por norma a ficção domina, mas as categorias de animação estão em grande crescendo, os temas são sempre diversos e tem a ver normalmente com a situação mundial.
“São os parceiros internacionais que nos garantem o potencial extra para continuar a acreditar e a realizar”
DD: De modo sintético, (e na sua perspetiva), qual a importância do cinema para a sociedade, e de que maneira procura despertar consciências, e fazer alertar para as problemáticas do mundo atual?
JR: O cinema é um meio especial, eficaz e extremamente educativo, principalmente nas escolas. Como temos uma parceria sólida e exemplar com o município vizinho de SJM, temos um trabalho exemplar e construtivo ao longo do ano nas escolas da cidade, isto porque existe o apoio, a abertura e uma mentalidade de abertura da autarquia local, que assim proporciona novas experiências aos alunos e os prepara para o futuro. É um exemplo a seguir e algo que acreditamos ser fundamental. Em Arouca também o fazemos, mas praticamente somente através da nossa vontade e meios. É sempre mais difícil, e deixa-nos um sabor amargo por querermos fazer mais e sentirmos que os alunos também gostariam de mais. Ficamos com a sensação que se está a adiar um qualquer futuro, que depois será difícil de recuperar.
DD: Quais foram os vencedores desta edição do Festival?
JR: Estou muito satisfeito com todos os vencedores, a equipa de júri é exemplar e muito competente, conseguir abarcar um conjunto muitíssimo diversificado de vários filmes de várias nacionalidades. O filme vencedor é de Espanha, tem uma qualidade de elaboração superior aos mais variados níveis. O cinema espanhol está num patamar muito alto, tanto a nível escolar como profissional. Nós deveríamos olhar para eles e tentar aprender e competir com o seu estilo, só assim levamos pessoas às nossas salas de cinema ver filmes portugueses.
DD: Que balanço fazem do Arouca Film Festival 2024?
JR: Um sucesso a todos os níveis. Foi uma organização exemplar e estamos a ter um alcance internacional com o nome de Portugal tremendo. Pela nossa qualidade de trabalho e organização estamos a estabelecer um protocolo com uma grande produtora de Angola, a Diamond Films, (produz séries de TV e Filmes). Estamos muito orgulhosos porque vamos fazer parte da equipa e estratégia de promoção da cultura angolana e dos conteúdos da produtora em Portugal. Talvez consigamos que venham filmar a Arouca, pois em Portugal já está agendado a rodagem de um filme. Tudo faremos para que a equipa de filmagem esteja por cá.
“A credibilidade é sempre geradora de confiança e sucesso”
DD: Elenque os principais objetivos para o futuro, e novidades para as próximas edições?
JR: Inovar, inovar, inovar! Seremos sempre um dos porta-estandartes da cultura e cinema português no mundo. Já garantido temos para o próximo Arouca Film Festival, convidados de Inglaterra e, neste momento, a Vice-diretora acabou de garantir a Argentina. O Brasil e a Ucrânia também estão na nossa agenda. Pretendemos internacionalizar o conceito e continuar com a visão global. Assim todos saem a ganhar, Arouca, os Arouquenses, a cultura, o cinema e Portugal.
Como diretor do festival acredito que o cargo que ocupo não deve ser para me servir, mas sim, para servir as pessoas.
Esta deveria ser a principal premissa de todos aqueles que ocupam cargos de destaque. Só assim conseguimos que as pessoas acreditem em nós e no nosso trabalho. A credibilidade é sempre geradora de confiança e sucesso.
Texto: Ana Castro
Fotos: Arouca Film Festival