No início da tarde quentinha de sábado, dia 9 de novembro, uma calorosa comitiva de adeptos arouquenses juntou-se no Parque de Caravanas/Autocaravanas, em frente ao posto da GNR, para preencher quase na totalidade a lotação de 3 autocarros. Homens e mulheres, miúdos e graúdos, acorreram ao apelo do FC Arouca, que disponibilizou bilhete e autocarro gratuitamente a todos os interessados em deslocarem-se até Famalicão para apoiar os Lobos de Arouca. Amigos, casais e famílias foram entrando nas viaturas, uma delas, curiosamente, o antigo autocarro do clube, que outrora transportou os diferentes plantéis e equipas técnicas do FCA. Nesse sábado, transportou uma série de adeptos e a mim também. À boleia do antigo autocarro e também desta iniciativa, impunha-se efetuar uma reportagem sobre a iniciativa em questão, a qual foi do agrado de todos os que participaram na mesma. Com pouco mais de uma hora de viagem pela frente, aproveitei o tempo para falar com alguns adeptos dos arouquenses.
No lugar à frente do meu, acompanhado pela sua esposa Rita, estava Andrey Gorelenkov. Desde que o FC Arouca desceu ao CP (Campeonato de Portugal), Andrey tem acompanhado a equipa em quase todos os jogos por “amor à camisola”, admitindo que não tem “outro clube sem ser o FC Arouca”. Com alguma frequência, o adepto e sócio de 26 anos desloca-se com o próprio carro aos jogos fora, especialmente aos estádios que ficam mais perto de Arouca. Contudo, Andrey salientou a importância da iniciativa, a qual acredita que traria “muito mais pessoas” aos jogos fora. “É muito importante, porque, primeiro de tudo, encher (a bancada) no estádio visitante é muito difícil, já para encher em casa é complicado, então ir para fora é muito mais complicado. Grande parte dos apoiantes, hoje em dia, são tudo mais jovens, pessoas que não têm carta, que estão a começar a sentir o FC Arouca porque começaram a ver o FC Arouca na Primeira Liga e querem ver os jogos. Uma iniciativa como esta, nem que fosse por um preço irrisório de 5/10 euros, iria ter muito mais pessoas a ir. É um momento de convívio entre pessoas que gostam todas da mesma coisa, do FC Arouca, neste caso.”, apontou. Do lado do Famalicão estava Armando Evangelista, antigo treinador do FC Arouca, onde se tornou o treinador com mais jogos pelo FCA na Primeira Liga e onde conquistou a subida à Primeira Liga e a ida à Conference League. Para Andrey, o reencontro é “agridoce, porque é sempre bom ver uma cara conhecida, mas é uma pena não estar do nosso lado desta vez”.
Nos outros autocarros, seguiam outros adeptos com os quais também falei. Uma dessas pessoas foi Maria de Lurdes Silva, uma das adeptas mais icónicas do FC Arouca, e que quase sempre aparece na transmissão televisiva, tanto em casa como fora. Com uma grande paixão por futebol (tendo até praticado) e a paixão pelo clube alimentada pelo seu pai, que a levava a ver os jogos ainda no Campo Afonso Pinto Magalhães, Lurdes costuma ir aos jogos fora na companhia de outros adeptos, mas a falta de companhia não a impede de ir na mesma. “Normalmente juntamos boleias com algumas pessoas que também têm o hábito de ir assistir aos jogos fora de casa. Ou, em último caso, vou sozinha, como já aconteceu várias vezes.”, confessou. Assim como Andrey, também Maria de Lurdes reconheceu a importância desta iniciativa. “São iniciativas muito boas e que valorizam muito o esforço de quem habitualmente vai aos jogos fora. A verdade é que acabam por ir mais pessoas ao estádio, a equipa sente o apoio dos seus adeptos e há um colorido diferente nas bancadas (desta vez impulsionado até pelas bandeiras ‘patrocinadas’ pelo Sr. Melo).”, referiu. Quanto a Armando Evangelista, reconheceu a marca do técnico na história do clube e o respeito que tem por este, mas mostrou-se confiante no trabalho de Vasco Seabra: “É um treinador que deixou marca aqui em Arouca. Deu-nos das maiores alegrias com a subida à 1ª divisão e às competições europeias. Sempre foi bastante correto com os adeptos e todos o respeitam bastante. Mas a vida segue, agora está noutro clube e confio no Vasco Seabra para fazer uma época tranquila ao leme do FC Arouca.”.
Com acompanhamento mais recente, mas uma paixão igualmente enorme, Dinis Dias, aos 18 anos de idade, acompanha o FC Arouca há 10 anos, sendo sócio há 4. O amor pela vila, devido ao avô, fê-lo começar a ir aos jogos e a cultivar essa paixão pela terra e pelo clube. Dinis vai a vários jogos por época e salientou que este tipo de iniciativa “só vem ajudar a equipa”. “Este tipo de iniciativas só vem ajudar a equipa, pois existe muita gente que não vai apoiar a equipa nos jogos fora devido a não ter como chegar ao destino ou mesmo por dificuldades ao conduzir. Sou a favor de continuar com esta iniciativa. Claro que não vai ser sempre gratuita, mas por um valor simbólico, vão continuar a encher autocarros”, confessou-nos. Quanto ao reencontro com Armando Evangelista, foi o mais sincero possível: “Apesar de gostar muito do Armando Evangelista e de esperar um jogo muito difícil, espero que ele saia do jogo muito triste e que o Arouca traga os 3 pontos que muita falta fazem”.
No final, ainda que o empate a zeros não fosse o resultado mais desejado pela massa adepta, ninguém ficou triste, pois o convívio fraterno entre arouquenses, unidos no apoio ao clube da sua terra, acabou por prevalecer.
Texto: Simão Duarte
Fotos: Dinis Dias e Simão Duarte