72 anos de Ginásio/Futebol Clube de Arouca – Parte I

Em terras de Santa Mafalda, a época natalícia traz consigo uma outra efeméride para além das que se comemoram anualmente nos dias 24 e 25 de dezembro. Falamos do aniversário do FC Arouca, que começou como Ginásio Clube de Arouca. Ainda que existam documentos que apontem o dia 24 como o da fundação (como a capa do antigo jornal “O Ginásio”, presente nesta reportagem) e o clube oficialmente assinale a efeméride a 25 de dezembro, certo é que foi em 1952 que o Ginásio se tornou oficialmente legal, seguindo-se a clubes dos anos 30 e 40, como o Arouca Futebol Club, a Associação Desportiva Arouquense e o Arouca Atlético Club. A mudança do nome ocorreu na década de 60, onde, como vários outros clubes fizeram, o Arouca filiou-se ao FC Porto, como forma de obter apoio de um clube de grande dimensão. Reza a história que a mudança não foi totalmente consensual à época.

Numa viagem pela história do clube e dos nossos entrevistados, o Discurso Direto esteve à conversa com três figuras emblemáticas da história do FCA: Artur Melo, sócio desde 78, Manuel Matos Sousa, antigo comentador dos relatos da Rádio Regional e colaborador do RodaViva e José Augusto “Testinha”, que fez parte da primeira equipa oficial do clube.

Parte da vasta coleção que Artur Melo faz desde a temporada 2010/11

Começando por Artur Melo, o atual sócio nº4 do FCA tem uma coleção invejável, iniciada na época 2010/11 (subida, pela primeira vez, à Segunda Liga) de recortes de jornais, fotografias e outras tantas coisas em papel. É também ele o dono da mítica camisola gigante. “A subida da terceira para a segunda, na Sertã. Nós estávamos lá a jogar e o Pampilhosa estava também a jogar fora. Se nós ganhássemos e o Pampilhosa empatasse ou coisa assim, nós subíamos. Aconteceu precisamente isso e nós subimos na Sertã. Eu tinha lá a camisola e disse “Tenho de entrar com a camisola dentro do campo”. Falei com o comandante da GNR e com o presidente do Sertanense e entrei.”, referiu-nos, quando questionado pelo momento mais memorável de que se recorda.

Manuel Matos Sousa confessou-nos que começou nos relatos e no jornalismo por acaso. “A entrada na rádio foi uma coisa que eu nunca imaginei. Num jogo em Romariz, eu estava ao lado do João Almeida da Regional. E disse ele “Ó Manel, estamos no intervalo, diz aqui qualquer coisa. E ao fim também falas”. Ele vira-me o micro, comentei e a partir daí passei a estar ao lado dele nos jogos para comentar.”

José Augusto, conhecido como sendo “Testinha”, recordou os primórdios da equipa, sempre marcados por dificuldades e que se podem resumir numa só frase: “Agora é um luxo, falamos em milhões, naquele tempo falávamos em tostões.”

Os três entrevistados, mesmo tendo sido entrevistados individualmente, concordaram todos em algo. No seu entender, deveria ser feita uma melhor preservação da história do FCA, como, por exemplo, através do erguer de uma simples placa no local do primeiro campo, no Parque Municipal. “Devia estar, mas passa despercebido. Nunca ninguém se lembrou disso, a própria Câmara poderia fazer isso. Quando fizeram o campo lá em cima, colocaram uma placa. Aquele (traseiras do Convento) passou à história, mas deveria ter.”, referiu Artur Melo. “Toda a história do Arouca está na imprensa local e dispersa por gavetas de ex-atletas, ex-dirigentes, adeptos. Reunir esse material não é fácil. Penso que deve partir das próprias associações cuidarem da sua própria história. Isto é um trabalho que tinha de ser feito há anos a fio. Alguma coisa falhou na reconstituição da história do Arouca, uma lacuna de algo que devia estar mais bem elaborada, presente.”, apontou Manuel Matos Sousa. “Devíamos ter tido, mas nunca ninguém se importou, nem oficialmente nem particularmente. Entrou-se em muitas competições, fomos a França, trouxe taças, coisas bonitas, que ficaram aí em exposição, mas desapareceu tudo. Taças, andam aí umas na casa de uns e outros, porque eram jogadores ou assim. Tudo está disperso e não valem nada assim, valia se estivesse tudo junto.”, concluiu também José Augusto.

Os fundadores do Ginásio, atual FC Arouca

Digitalização da edição do dia 24 de dezembro de 1953 do jornal “O Ginásio”, dirigido por Valdemar Leite Duarte

A existência do Ginásio Clube de Arouca, agora FC Arouca, muito o deve a dois amigos e figuras históricas arouquenses. São elas Fernando Calçada e Valdemar Duarte.

Segundo a obra “100 Figuras Arouquenses”, da autoria do nosso cronista Alberto de Pinho Gonçalves, Fernando Calçada nasceu no Burgo (Eiras) a 14 de janeiro de 1931 e faleceu a 25 de maio de 2012. Praticou futebol desde cedo, no campo onde o Ginásio começou a jogar, tendo sido fundador, sócio número um, atleta e capitão do clube. Para além do futebol, foi também um dos fundadores do “Cine-Arouca” em 1957, a única sala de espetáculos daquele tempo, e esteve ligado à atividade de transportes, primeiro com camionetas e depois com um táxi. Nutria também especial paixão pelo radioamadorismo.

Valdemar Duarte nasceu a 31 de dezembro de 1931,  na Ponte Nova da Vila de Arouca e faleceu a 21 de fevereiro de 2018. Após concluir o ensino primário, começou por trabalhar no já extinto “Café Luso”. Em 56, fundou a “Papelaria Central”, situada junto ao atual edifício dos Correios. Um ano depois, a par com Fernando Calçada e outros ilustres,  fundou o ”Cine-Arouca”, tendo sido o seu proprietário até julho de 83. Em 60, inaugurou o “Café Central”. 17 anos depois, pós-Estado Novo, realizou um dos sonhos da sua vida, a criação do jornal quinzenal “Jornal de Arouca”, o qual durou até 2012. No desporto, foi atleta do Arouca Atlético Club, o antecessor do Ginásio, do qual foi fundador, o primeiro vice presidente da direção e lateral esquerdo da equipa. Referir ainda que, a par com Óscar Silva, organizou o “I Festival de Atletismo de Arouca” a 25 de abril de 1965 e, posteriormente, também dirigiu com este o FCA.

Por último, mas não menos importante, mencionar os restantes elementos da primeira direção do Ginásio, também eles figuras de renome. Falamos de António Guilhar (Tesoureiro), Telmo Rocha (1º Secretário), Joaquim Ferreira (2º Secretário), Aparício Gomes Alves (Vogal), Manuel Sousa Ferreira Pinto (Presidente da Assembleia Geral), Victor Freitas (Presidente do Conselho Fiscal) e António Fernandes (1º dirigente da secção do futebol).

Texto: Simão Duarte

Foto Capa: Arquivo Artur Melo

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