Arouca ganhou, pelo segundo ano consecutivo, o galardão de Autarquia Voluntária. A cerimónia de entrega da distinção ocorreu a 30 de janeiro, em Lisboa, e contou com a presença da vice-presidente do Município de Arouca, Cláudia Oliveira, e do secretário de estado da Segurança Social, Jorge Campino. Para dar a conhecer um pouco deste universo do voluntariado o DD entrou em contacto com duas voluntárias arouquenses que expuseram um pouco do seu percurso e motivação para continuarem a realizar este trabalho.
O galardão de “Autarquia Voluntária” é atribuído pela Cooperativa António Sérgio para a Economia Social e visa destacar autarquias, locais e municipais, que tenham promovido nas suas comunidades atividades e políticas de incentivo às boas práticas de voluntariado. No caso do nosso concelho contribuíram para a atribuição deste galardão ao Município os projetos “Voz Amiga”, “Sénior. com” e “EUSOUDIGITAL”, o programa de voluntariado jovem do Arouca Geopark, o Banco Local de Voluntariado e o evento “Arouca – História de um Mosteiro”, que foram promovidos em 2024.
Nesta segunda edição foram distinguidas 26 autarquias (24 municípios e 2 freguesias).
Alexandra Ferreira foi a primeira jovem voluntária a prestar o seu testemunho revelando que o motivo que a levou a ingressar o percurso como voluntária “foi a possibilidade de expandir e enriquecer os seus conhecimentos e experiências”, e, em simultâneo, poder ajudar e integrar uma equipa “de excelentes profissionais”. Paralelamente a jovem considera esta experiência como uma “grande oportunidade de aprendizagem e entreajuda”, que fica “grata” por concretizar.
Alexandra começou o seu percurso em 2015, na Bebeteca, com o projeto baseado no livro “Quanto mais longa é a espera, maior é o abraço”, que tem como objetivo promover a leitura junto de bebés e crianças, realizado pela Biblioteca Municipal. Neste projeto colaborou através da parte artística e de artes manuais através de materiais reaproveitados, assim como nos efeitos sonoros e teatrais ao longo da leitura. A jovem referiu ainda que durante o percurso surpreendeu-se com a quantidade de atividades em prol da comunidade que a biblioteca possui, e tendo já realizado voluntariado como escoteira, “quando era criança” acredita que ao “contribuir para o bem-estar dos outros, acabamos por nos sentir mais felizes”. Simultaneamente, constatou que quanto mais pessoas existirem a realizar voluntariado melhor, uma vez que “a ajuda coletiva faz uma grande diferença”. “Cada gesto de solidariedade, por menor que pareça, tem um impacto significativo, o qual pode mudar a vida de alguém, fortalecendo também o tecido social em que vivemos.”
Para Alexandra qualquer tipo de voluntariado que envolvesse “trabalho com crianças de várias idades”, seria o seu maior interesse, por ser uma área em que se está “constantemente a aprender”, devido a cada criança ser “única”, e o trabalho com elas traduzir-se numa “constante surpresa”.
A experiência que teve como voluntária moldou o seu “objetivo a nível profissional”, mais precisamente no que toca ao “desenvolvimento e educação infantil”, dado que trabalha com crianças todos os dias “em diferentes áreas”, o que lhe obriga a “adaptar” a sua abordagem de acordo com cada situação.
Da sua vivência como voluntária na Bebeteca aprendeu que a “leitura de um livro, vai muito além de uma simples forma de compartilhar uma história”, através da mesma, podemos “encontrar conceitos complexos e transmitir mensagens profundas, e, ao mesmo tempo, criarmos uma experiência imersiva para os ouvintes”. Isto só é possível, segundo Alexandra, havendo todo um planeamento cuidadoso da forma como a história vai ser conduzida, tendo total precisão nos detalhes, os quais fazem todos os intervenientes sentirem-se como se estivessem dentro da história.”
Por sua vez, Maria Marques adianta que o que a levou a ingressar no Projeto “Voz Amiga”, como voluntária, foi a “profunda consciência do impacto negativo que a solidão tem na vida das pessoas”, e, além disso, saber que pode “contribuir para melhorar o dia de alguém”. Para a jovem, o facto de “através de uma chamada telefónica, ser capaz de proporcionar conforto, companhia e alegria a alguém que se sente isolado é extremamente gratificante”.
Começou o seu percurso como voluntária no Natal de 2020, momento “significativo para si devido ao significado dessa “época festiva”. Um dos aspetos positivos foi e é, “sem dúvida, a relação que se cria com as pessoas” que acompanham. Maria acompanha atualmente “o Sr.Manuel”, com quem desenvolveu uma amizade “muito especial”. “As nossas conversas tornaram-se uma parte importante na minha vida, e sinto que para ele são igualmente significativas, fala-me da sua juventude, das experiências que viveu e das pessoas que marcaram a sua vida e é com um enorme carinho que o ouço”, expôs. O mais difícil como referiu é lidar “com a perda das pessoas” que acompanham.
No que toca à população arouquense uma das maiores carências que Maria nota é a “falta de apoio social a pessoas em situação de vulnerabilidade, especialmente no que toca à solidão e ao envelhecimento isolado”. Muitos deles, como salientou, “enfrentam dificuldades para aceder a cuidados de saúde, bem como a uma rede de apoio familiar”, o que acaba por agravar a situação.
A resolução destas questões é um “desafio complexo”, e para a entrevistada talvez “um longo caminho”, para o qual acredita que a solução comece pela “maior mobilidade da comunidade”. “O fortalecimento dos projetos de voluntariado e a criação de redes de apoio locais são passos importantes e fulcrais para aliviar essas carências. A promoção de campanhas de sensibilização, o incentivo à participação de mais jovens nos projetos de voluntariado, e a criação de programas de acompanhamento para os idosos e famílias mais vulneráveis podem ser uma alternativa para minimizar os impactos dessas dificuldades”, agregou.
Maria Marques referiu que tem um grande interesse em “explorar outros tipos de voluntariado”, particularmente o de “cooperação internacional” para “combater a pobreza, promover direitos humanos e melhorar a qualidade de vida da comunidade”. Destacou igualmente que apesar da sua “experiência como voluntária não ter influenciado a sua escolha profissional” proporcionou-lhe princípios fundamentais como “empatia, entreajuda, trabalho em equipa e capacidade de comunicação” que considera “essenciais” tanto a “nível pessoal como profissional”.
Trabalho manual para o Projeto Bebeteca
Cenário Bebeteca