Desde o dia 7 de Abril de 2025 que entrou em funcionamento, em Arouca, um novo hotel de 5 estrelas instalado na ala sul do Mosteiro de Arouca e que resultou da concessão por 50 anos ao Grupo MS Hotels&Resorts, em 2019, para a exploração e gestão dessa zona conventual, no âmbito do programa governamental “Revive”.
Trata-se, sem dúvida de um importante investimento como polo de desenvolvimento para Arouca e de preservação e promoção do seu belo ex-libris, o Mosteiro de Arouca.
Datado do sec. X o Mosteiro de Arouca passou a ser exclusivamente feminino no sec. XII e teve o seu período áureo no sec.XIII (1217-1256) quando nela viveu e morreu a rainha Mafalda Sanchez, filha de D.Afonso I, o 2º rei de Portugal e neta de D.Afonso Henriques..
Foi durante este período que a rainha D.Mafalda adotou a regra de Cister com a consequente mudança do hábito negro da Ordem de S.Bento para o hábito branco da ordem Cisterciense, iniciando-se então um período, não só de renovação espiritual, como também de grande prosperidade, à qual não terá sido alheia a presença da rainha Mafalda, apesar de nunca ter professado na ordem.
Foi no final da década de 50 que tiveram lugar importantes obras de intervenção na ala sul do Mosteiro de Arouca, para a instalação do Colégio Salesiano que aí funcionou desde 1960 até 1982, ano em que foi encerrado.
Fazer obras num imóvel com o estatuto de Monumento nacional como o é o Mosteiro de Arouca, desde 1910, implica cuidados extremos e um grande rigor histórico que não colida ou descaraterize os séculos de história que estão gravados em cada parede e em cada espaço.
Acompanhado pelo diretor do novo Hotel, o dr. João Moita da Silva, tivemos ocasião de percorrer os espaços desta unidade hoteleira de luxo, levando sempre na memória comparativa os mesmos espaços que há mais de meio século percorríamos, diariamente, como professor do ex-colégio Salesiano. E sobre a simplicidade austera e quase monástica de então, vimos agora sobrepor-se a beleza do conforto e o requinte moderado do luxo, perfeitamente integrados neste espaço histórico, após 5 anos de obras de adaptação em que foram investidos cerca de 10 milhões de euros.
Refira-se que ao longo desta visita cruzámo-nos com obras do artista português Vhils (Alexandre Farto), onde estão reproduzidas duas portas antigas do Mosteiro a embelezar, com sabor histórico, o novo espaço.
Entrando pela porta do antigo celeiro do Mosteiro, ladeada por uma linda escadaria que dá acesso ao 1º piso, deparámo-nos com um espaço bem mobilado, rodeado de um ambiente extremamente acolhedor, onde não faltam bars devidamente apetrechados e sofás cómodos para os utentes poderem saborear momentos de acolhimento ou de lazer durante a sua estadia, sempre acompanhados de uma grande variedade de doçaria conventual.
Da recepção, onde em tempos idos terá funcionado a adega e o lagar do Mosteiro, passámos ao restaurante do hotel. Numa bela sala toda ela em arcos de granito e onde nas décadas de 60 a 80 funcionou o refeitório para os alunos e professores do antigo Colégio Salesiano, será também aí que vai funcionar o restaurante, aberto não apenas aos utentes do hotel, mas também ao público que deseje almoçar em espaço tão emblemático e imbuído de história.
Todo o 1º e 2º piso, onde outrora funcionaram não só as camaratas (dormitórios) dos alunos, mas também as respetivas salas de aula e os diversos gabinetes de apoio escolar, todo este amplo espaço, está agora ocupado por 53 quartos com diferentes tipologias, tendo a maior parte deles vista para a cerca do Mosteiro.
No âmbito do alojamento destaque para a existência de uma suite real com a tipologia duplex e instalada no mirante da ala sul. Servida por elevador privativo esta suite consta de dois quartos, sala de estar e sala de jantar e dispõe de uma excelente vista, não só para a cerca do mosteiro, como também para a própria vila.
Se o espaço interior do Mosteiro não sofreu alterações de vulto na sua estrutura e na sua arquitetura, como seria natural, o mesmo não se pode dizer do seu espaço exterior, circunscrito à cerca e mata adjacente.
Nesse espaço agrícola que outrora abastecia, não só o Colégio Salesiano, como até a própria comunidade local, foram criadas, de raiz, diversas estruturas de apoio ao novo hotel.
Além de uma área ajardinada com cerca de 2 mil metros quadrados, foi construida uma piscina com amplas áreas de lazer e apoiada por um bar. A separar a zona do jardim, a avenida das camélias e que conduz as pessoas desde a saída do refeitório até à antiga fonte da nogueira, passando ao lado do antigo lavadouro, que foram ambos devidamente preservados e que bem contribuem para o embelezamento de toda esta área exterior tão agradável e que pode ser aproveitada para eventos ao ar livre.
Em qualquer unidade hoteleira, a saúde e o lazer são vertentes importantes para os seus utentes e elas também não foram descuradas aqui. Assim, além da já referida piscina exterior, foi também construido um SPA com salas para tratamento do corpo e relaxamento, com piscina aquecida, jacuzzi, sauna e banho turco.
Para as crianças foi construida uma pequena casa em madeira, designada Kids Club, com atividades educativas e interativas, dispondo também de uma piscina exterior.
No antigo campo de basquetebol do Colégio Salesiano, foi criado um campo de padel, instalado em plena mata adjacente.
Junto à Botica, que mais tarde será recuperada para espaço de relaxamento familiar, está a ser criada uma horta com plantas aromáticas e um pomar para abastecimento do hotel.
Num ambiente de tranquilidade que combina história, natureza e espaços livres, percorrido até por um regato que atravessa a própria cerca do Mosteiro, Arouca dispõe agora de uma ótima estrutura aberta a eventos especiais e a celebrações de todo o tipo e que veio dar nova vida ao Mosteiro de Arouca, depois que a algazarra dos alunos do Colégio Salesiano se calou, de vez, em 1982.
Texto: José Cerca
Fotos: MS Colletion Arouca e José Cerca